Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A conjugação do verbo vir no presente do indicativo na 3.ª pessoa do plural é vêm. Eu na escola primária aprendi "veem" sem acento circunflexo (o verbo vir, não o ver). Isto está correcto?

Obrigado.

Resposta:

Em harmonia com o Acordo Ortográfico de 1945, que tem vigorado em Portugal, a 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo é vêm. Não se alterará esta forma com o novo Acordo.

Veem será a nova forma de escrever vêem, 3.ª pessoa do plural da presente do indicativo do verbo ver. Como indicam João Malaca Casteleiro e João Dinis Correia, em Atual: o Novo Acordo Ortográfico. O Que Vai Mudar na Grafia do Português (Lisboa, Texto Editores, 2008, pág. 17), prevê-se que «todas as palavras graves (paroxítonas), nomeadamente os verbos da segunda conjugação, que contêm um e tónico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, não recebam acento circunflexo [...]». Isto significa que crêem, dêem, lêem e vêem e formas derivadas como descrêem, desdêem, relêem e revêem passam a ter a seguinte grafia: creem, deem, leem, veem, descreem, desdeem, releem e reveem.

Pergunta:

Como pronunciar a palavra latina caput?

Obrigada.

Resposta:

Trata-se da palavra latina căput, capĭtis, que significa «cabeça». Duas possibilidades:

a) na pronúncia tradicional: "kápud";

b) nas pronúncias eclesiástica e restaurada: "káput".

Sobre as pronúncias possíveis do latim, consultar a resposta Ecce Homo.

A palavra cabeça evoluiu do latim vulgar hispânico capitĭa, forma derivada de caput.

Pergunta:

Qual é a palavra primitiva da qual deriva a palavra ferozes?

Os meus agradecimentos pelo esclarecimento.

Resposta:

Não se justifica falar em palavra primitiva a propósito de ferozes, porque esta forma é a flexão de plural do adjectivo feroz. Este vocábulo não surge de nenhum processo de formação de palavras actualmente activo; é antes um termo que passou do latim ao português. Assim, a palavra feroz vem do «lat[im] fĕrox,ōcis, "indomável, bravo, rebelde, orgulhoso, atrevido, valente, violento, feroz, cruel"». Este adjectivo significa «que tem instinto de fera; bravio, selvagem»; em sentido figurado, quer dizer, entre outras coisas, «que é cruel, perverso» ou «caracterizado pela extrema força; violento, impetuoso».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Existe a palavra "cripticidade"?

Obrigada.

Resposta:

A palavra cripticidade não se encontra registada em dicionários gerais de língua, nem surge em pesquisas no corpus CetemPúblico, embora surja em 3160 ocorrências na pesquisa efetuada pelo motor de busca Google. No entanto, pode ser considerada um neologismo, uma vez que é uma palavra possível linguisticamente, ou seja, é formada pelo adjetivo críptico + sufixo -idade

Pode significar «característica do que é críptico ou qualidade do que é críptico».

Pergunta:

Eu posso dizer que um documento foi "vistado", ou trata-se de um neologismo?

Resposta:

Um neologismo é uma palavra que pode estar correcta mas que é de criação recente e, por isso, susceptível de ainda não se encontrar dicionarizada. Pelo contexto a que se refere a consulente, um «documento "vistado"» é o mesmo que «um documento a que se deu visto», isto é, «um documento que foi autenticado por uma dada autoridade». Nesse contexto, "vistado" é o particípio do verbo "vistar", que numa só palavra é o mesmo que «dar visto», embora aguarde dicionarização.