Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que me explicassem o que são verbos prototípicos e como proceder para os identificar numa frase.

Será sempre parco todo e qualquer agradecimento pelo vosso fantástico trabalho, por isso, aqui deixo um humilde «Muito obrigada a todos!».

Resposta:

À noção de categoria pode-se aplicar o princípio cognitivo da prototipicidade, desenvolvido por Rosch (1973 apud Hopper & Thompson, 1984). Segundo esse princípio, uma vez que a categorização humana não é arbitrária, mas faz-se de exemplares mais centrais para exemplares mais periféricos, são prototípicos os exemplares mais centrais de determinada categoria.

Sobre verbos prototípicos, traduza-se o que escreve John R. Taylor (Linguistic Categorization. Prototypes in Linguistic Theory, Oxford, Clarendon Press, 1995, pág. 193):

«Uma abordagem às classes de palavras baseada em protótipos foi (implicitamente) adoptada por Givón1 (1979). Este defende que a diferença essencial entre nomes e verbos reside na "estabilidade temporal" dos seus referentes. A estabilidade temporal constitui um continuum. Num pólo, estão as entidades com a maior estabilidade temporal, isto é, entidades que não mudam de identidade no tempo. Estas são (tipicamente) referidas como nomes. Por outro lado, os verbos prototípicos referem-se a entidades destituídas de estabilidade temporal, isto é, acontecimentos e rápidas mudanças de estado (1979:14). Outro corolário é os referentes dos nomes serem caracterizados em termos da sua existência no espaço; o típico referente nominal é uma coisa identificável e duradoura. Os referentes verbais, por outro lado, têm tipicamente existência apenas num certo ponto no tempo; o típico referente verbal é assim um acontecimento identificável (1979: 320 ss.).»2

Tendo em conta esta definição, verbos que representem acontecimentos (ex., cair, espirrar) e mudanças de estado (ex., nascer, morrer

Pergunta:

Nossa língua portuguesa é agraciada com vasta quantidade de sinônimos, o que é excelente quando existe dúvida quanto à gramática correta de um termo; porém, nos casos de cócegas e moreno, eu me vejo perguntando: há sinônimos?

O termo cócegas carrega uma conotação informal, quase infantil, parecendo-me inapropriada para algumas situações literárias... Vocês conhecem algum sinônimo, ou forma simples de se referir ao «efeito cócegas» de forma mais formal?

O termo moreno, ao menos no Brasil, carrega dois distintos significados: aquele de cor de pele entre branca e negra; ou aquele cujos cabelos são escuros — nem loiro, nem ruivo, nem grisalho. Quando se escreve, porém, uma metonímia para uma personagem que possua cabelos negros usando-se do termo moreno (ex.: «o moreno se viu aprisionado pela própria ignomínia») —, a conotação do brasileiro é associar moreno à cor da pele! Em outras línguas sei que há a raiz "bruno", tanto nas latinas quanto nas saxônicas, mas em português temos o termo "bruno", ou "bruneto" ou algum sinônimo para moreno que diga apenas respeito à cor escura dos cabelos?

Obrigado.

Resposta:

O Dicionário Houaiss regista o sinónimo coscas, que também não evita a conotação infantil, talvez porque a própria noção de cócegas é infantil.

Em relação à cor de cabelo, não encontro outro termo que não seja moreno para cabelos negros ou castanho-escuros, por oposição a louro (ou loiro), para os cabelos claros. Para tom de pele, existe o sinónimo trigueiro. No entanto, é certo que, por exemplo, em Portugal, dizer que uma pessoa é morena significa que, além dos cabelos escuros, a pele é bronzeada ou trigueira.

Pergunta:

Antes de mais, muito obrigada pelo vosso trabalho, que tanto me ajuda a fazer o meu!

A minha questão prende-se com a necessidade de utilização de aspas ou itálico com estrangeirismos, quando estes são nomes próprios. Aqui ficam alguns exemplos que me causam dúvida:

— A Grand-Place de Bruxelas, ou A "Grand-Place" de Bruxelas?

— O Schloss Hohenschwangau, ou O "Schloss Hohenschwangau"?

— De Stonehenge a Tower Bridge, ou De "Stonehenge" a "Tower Bridge"?

Já li vossa resposta à questão "Como grafar estrangeirismos?", mas não fiquei totalmente esclarecida.

Muito obrigada pela vossa atenção.

Resposta:

Com nomes próprios estrangeiros, o critério é (relativamente) simples: se não há expressão portuguesa consagrada, usa-se o nome estrangeiro sem aspas nem itálico. Nos casos apresentados, escreve-se (o negrito apenas se usa aqui para destaque; noutras circunstâncias não se emprega):

1. Grand-Place de Bruxelas, porque não se usa "Praça Grande de Bruxelas".

2. Palácio de Hohenschangau, porque Schloss significa «castelo» em alemão; não vale a pena traduzir o topónimo Hohenschawangau, embora este seja decomponível em elementos e traduzível: grande (= hoen) condado (= gau) do cisne (= schwan).

3. Escreve-se Stonehenge, uma vez que não há adaptação portuguesa, e Tower Bridge, porque "Ponte da Torre" não está consagrado; contudo, diz-se e escreve-se Torre de Londres, e não "Tower of London".

Pergunta:

Qual a origem do apelido Brazeta?

Resposta:

José Pedro Machado, no seu Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, põe a hipótese de o apelido/sobrenome Brazeta ter origem italiana, sendo a adaptação de Brazzeta, diminutivo de Brazza. Machado relaciona este nome com a forma latina Brattia. De salientar que os nomes latino e italiano designavam uma ilha do mar Adriático que hoje pertence à Croácia e se chama Brač.

Pergunta:

Gostava imenso que dissessem qual é a postura da Academia das Ciências de Lisboa ante questões polémicas/temas controversos. Os meus alunos espanhóis questionam a existência destas questões havendo uma academia da língua portuguesa. Entendo que eles não queiram ou não tenham tempo de reflectir sobre estes temas.

Poderiam exemplificar isto falando do plural dos substantivos compostos? Se calhar há outro tema mais apropriado para responder à minha dúvida. Fiquem à vontade.

Por falar nisto, como os exames oficiais de língua portuguesa deveriam tratar tais situações?

Desde já agradeço imenso a vossa resposta.

Resposta:

Em relação à Academia das Ciências de Lisboa, só consigo dar conta daquilo que se lê nos respectivos estatutos, disponíveis em http://academiadascienciasdelisboa.freehostia.com/joomla/:

«Artigo 4.º

São finalidades da Academia:

a) Praticar e incentivar a investigação cientifica, sempre que possível e necessário de forma interdisciplinar, e tornar públicos os resultados dessa investigação;

b) Estimular o enriquecimento e o estudo do pensamento, da literatura, da língua e demais formas de cultura nacional;

c) Promover o estudo da história portuguesa e suas relações com a dos outros povos e investigar e publicar as respectivas fontes documentais;

d) Colaborar em actividades de educação e ensino e fomentar a sua difusão e aperfeiçoamento;

e) Elaborar os pareceres que o Governo e outros serviços nacionais lhe solicitarem;

f) Participar no intercâmbio cultural com os países estrangeiros em espírito de aberta cooperação;

g) Contribuir, através da investigação, da extensão cultural e da discussão de ideias, para a valorização do povo português em todos os aspectos.

Artigo 5.º

A Academia é o órgão consultivo do Governo Português em matéria linguística.»

Nos estatutos, pode ainda ler-se no artigo 17.º que as sessões das classes académicas (a Academia tem duas classes, a de Ciência e a de Letras) podem ter por objecto «quaisquer outros assuntos que o presidente da classe, por iniciativa sua, por solicitação do presidente da ...