Pergunta:
Se se considerar a forma de construir o verbo amandar, com o prefixo a-, à imagem de atirar (a- + tirar), percebemos que existe uma similitude de sentidos distintos entre as acções que estes dois pares de verbos indicam.
Mais do que comparar amandar com assentar, que tem o mesmo sentido de sentar, alevantar quando é o mesmo que levantar, convém pensá-lo em comparação com tirar e atirar, que têm significados diferentes.
Amandar implica movimento, é sinónimo de lançar, atirar.
Mandar indica uma ordem, implícita (ordenar que uma carta siga de acordo com as normas de envio do correio) ou explícita (mandar que alguém se cale, ordenar, impor, fazer obedecer).
São, claramente, verbos com significado distinto.
De resto, é isto que afirma o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, na entrada amandar: «Etim. a + mandar, lançar-(se), atirar(s), arremessar(se)»; sem qualquer indicação de uso arcaico, regional ou popular. Assim sendo, o verbo existe para lá da oralidade e está inscrito na língua portuguesa (repito, sem regionalismos ou origens diferenciadoras sejam elas geográficas ou cronológicas).
Obrigado e parabéns pelo vosso trabalho.
Resposta:
Parece-me que, a respeito da forma amandar, não se trata de negar a sua expressividade ou a sua coerência morfológica e semântica. O que acontece é que o juízo normativo que sobre ela recai é, por enquanto, negativo. Um falante pode sempre, como faz o consulente, legitimar o uso desta palavra ou daquela construção, mas a verdade é que, se sobre uma forma linguística se generalizou uma apreciação desfavorável no seio de toda a comunidade de falantes ou em certos meios com maior poder sobre os usos linguísticos, torna-se difícil retirar-lhe essa carga negativa, por muito injusta que ela seja. No caso, de amandar, dada a sua popularidade, é possível que nos encontremos no caminho de a tolerar no português europeu. Mas, por agora, considera-se que o verbo não é aceite pela norma, conforme se diz mesmo numa gramática descritiva, a de M.ª Helena Mira Mateus et al. (Gramática da Língua Portuguesa, 2003, pág. 955; negrito no original):
«[...] a coexistência de um verbo simples com um parassintético estranho à norma do português [...] está igualmente atestad[a]:
(8) baixar abaixar
calcar acalcar
limpar alimpar
mandar amandar [...]»
Já agora, cumpre-me assinalar que a edição brasileira de 2011 do Dicionário Houaiss tem marca de uso a respeito da entrada amandar: «Regionalismo: Portugal. Uso: informal.» Há, portanto, uma indicação sobre o contexto ou registo em que esta forma verbal costuma ocorrer.