Pergunta:
Em frases como «eu vou comprar um carro», «ela vai viajar amanhã» e em muitas outras similares, todas muito comuns no português do Brasil, sendo mesmo as costumeiras e preferidas por aqui, o verbo ir deve ser considerado um verbo auxiliar para fazer o futuro? Se sim, este verbo, nos casos acima mencionados, pode ser considerado o equivalente ao inglês will, verbo auxiliar para fazer o tempo verbal futuro na língua inglesa?
As referidas expressões podem ser convertidas em formas equivalentes mais sintéticas em nossa língua, de modo que poderíamos dizer «eu comprarei um carro», «ela viajará amanhã», mas estão longe de ser as mais usadas no Brasil.
Por último pergunto-vos se as duas maneiras são corretas, e se as duas mais sintéticas não seriam as mais eruditas. Indago ainda qual dos dois modos de fazer o tempo verbal futuro é o mais antigo no nosso idioma.
Muito obrigado.
Resposta:
Na frase «ela vai viajar amanhã», o verbo ir é efetivamente um verbo auxiliar, que, associado a um verbo principal, exprime futuridade; como tal, tem uma função semelhante ao auxiliar will em inglês, o qual associado a um infinitivo também marca um valor temporal semelhante («she will travel tomorow»). Contudo, ir e will não são semanticamente equivalentes do ponto de vista histórico. Com efeito, o verbo ir é etimologicamente um verbo de movimento (do latim eo, is, īvi ou ĭi, ītum, īre; cf. Dicionário Houaiss), enquanto, em inglês, o verbo modal will tem origem num verbo volitivo equivalente a querer em português (o uso de will como auxiliar para marcar o futuro remonta ao inglês antigo; cf. s.v. will, no Online Etymology Dctionary). À construção formada por ir + infinitivo, chamam vários autores «futuro perifrástico».
Há certa correspondência semântica com as formas "sintéticas", mas, no uso atual, estas não têm exatamente os mesmos valores semânticos que a construção com auxiliar. A este respeito, a Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pág. 526)1 considera o seguinte:
«O futuro simples também pode ter um valor modal epistémico, no qual se veicula incerteza ou não comprometimento do falante relativamente ao valor de verdade da frase, como se ilustra nos seguintes exemplos:
(39) a. Neste momento, o Primeiro-Ministro estará a ser recebido pelo Presidente.
...