Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é a origem do sobrenome Carrapatinho?

Resposta:

Trata-se de um sobrenome que tem origem no diminutivo de carrapato, substantivo comum que é, segundo o Dicionário Houaiss, «design[ação] comum aos ácaros da fam[ília] dos ixodídeos e argasídeos, que reúne cerca de 800 [espécies] de ectoparasitas de vertebrados terrestres; carraça, carrapata» e «indivíduo importuno, que não larga outro; indivíduo que se apega com muita força a algo». Quer Carrapatinho quer Carrapato, que podem ocorrer como sobrenomes, talvez tenham começado por ser apelidos (isto é, alcunhas, como se diz em Portugal).

Pergunta:

Pode-se usar "emanescente", ou só "emanente"?

Resposta:

Nem "emanescente", nem "emanente". O mais correto é empregar emanante.

Encontram-se efetivamente ocorrências de "emanente" e "emanescente" em páginas da Internet, mas os dicionários ou não registam estas formas, ou, se acolhem "emanente" (nunca "emanescente"), como é o caso do Dicionário Houaiss, remetem-na para emanante, relacionado com emanar, «ter origem em», «soltar-se» («o poder emana do povo», «um cheiro e comida emanava da cozinha», idem).

Pergunta:

«Convidam todos os interessados "a acessar" o site», ou «"a acessarem" o site»?

Qual a forma correta?

Obrigado.

Resposta:

As duas formas estão corretas.

A Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 1944) inclui convidar num conjunto de verbos que podem ser seguidos de um complemento direto pronominal e de uma oração subordinada substantiva completiva cujo verbo pode estar quer no infinitivo pessoal quer no impessoal se o seu sujeito tiver a mesma referência que o referido complemento direto:

«Convidam todos os interessados a acessar/acessarem o site1

Nesta frase, «todos os interessados» é complemento direto de «convidam», e o sujeito de «acessar» ou «acessarem» está subentendido, mas refere-se a «todos os interessados».

De notar, embora a gramática consultada diga sobretudo respeito ao português de Portugal, o que aí se diz sobre este assunto não parece entrar em contradição com a descrição de gramáticas destinadas ao público brasileiro (por exemplo, Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira/Editora Lucerna, 2009, 284/285).

1Usa-se «acessar (um sítio/uma página)» no Brasil, mas «aceder (a um sítio/a uma página)» em Portugal (ver Textos Relacionados).

Pergunta:

Sei que 18 tanto se pode ler "dezôito" como "dezóito" e que ambas estão corretas, fiz várias pesquisas e em tempos encontrei uma justificação diferente que já não consigo encontrar. É mesmo só por motivos regionais, ou há mais alguma justificação? Porque em piada é bastante comum ouvir dizer «então porque não se diz "biscóito" em vez de "biscoito"?» Foi só porque alguém não se "lembrou" de começar a dizer dessa forma e não de outra? Fica a questão...

Obrigada.

Resposta:

Em Portugal, a pronúncia de dezoito com o aberto ("dezóito"), considerada como a da língua-padrão1, é vista como a evolução da forma "dezaoito" (ainda hoje existente no galego normativo). Sobre a história de dezoito e a variação da sua pronúncia, diz Leite de Vasconcelos (Lições de Filologia Portuguesa, Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926, pág. 296; manteve-se a ortografia original):

«[...] Dezóito tem ói (ao passo que oito tem normalmente ô), porque resulta das formas arcaicas dezooito < dezaoito; esta última é paralela a dezanove, dezasete, e dezaseis. Em alguns sítios, por exemplo, em Vila-Real de Trás-os-Montes, diz-se dezôito, com ô, por influência do de ôito, que também aí se usa.»

Note-se igualmente que, já desde o século XIX, se regista não só a forma com o fechado, "dezôito", mas também a forma "óito", com o aberto, geralmente atribuindo-se ambas as formas aos falares do Norte de Portugal (cf. Gonçalves Viana, "Materiais para o estudo dos dialectos portugueses", Revista Lusitana, vol. I, 210).

Sobre o favor que a forma "dezôito" tem na tradição normativa portuguesa, refira-se que Vasco Botelho de Amaral, no Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, pág. 1122), era perentório, quando escrevia: «Dezoito. Lê-se com ói aberto: dezóito, e não dezôito [...].» No entanto, ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1945 (AO), ...

Pergunta:

O 7.º conde de Soure (1798-1838) chamava-se D. Henrique José da Costa Carvalho Patalim Sousa Lafetá. Relativamente aos apelidos, parecem-me originais e inéditos os de Patalim e Lafetá.

Será que me poderiam explicar a origem e o significado destes dois apelidos?

Muito obrigado!

Resposta:

Sobre os apelidos (ou sobrenomes) Lafetá e Patalim, transcrevemos o que regista Manuel de Sousa, em As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas:

«Lafetá – Apelido de origem italiana usado por uma notável família da cidade de Cremona, no ducado de Milão, da qual um ramo passou à Flandres, na pessoa de Carlos d´Alfaiati – nome que naquela terra se grafou "Affaytadi" – ali se tendo dedicado ao negócio na segunda metade do século XV. Seria provavelmente seu irmão João Francisco d´Alfaiati, que veio instalar-se em Portugal durante o reinado de D. Manuel I, aqui se chamando de Lafeitar, Lafetat ou Lafetá, sendo esta última a forma que veio a prevalecer. Aquele João Francisco pôde reunir grande fortuna graças ao comércio de especiarias vindas da Índia, vindo a ser fidalgo da Casa de D. João III e comendador do Mogadouro, na Ordem de Cristo. Com a grande fortuna granjeada instituiu dois importantes morgados em favor de seus filhos naturais, cuja descendência continuou o apelido. As armas dos Lafetás são idênticas às dos Alfaiati italianos: de azul, com um castelo de ouro. Timbre: o castelo do escudo.»

«Patalim – Apelido que deve ser proveniente de alcunha e que já em 1319 era usado por Lopo Rodrigues Patalim e sua mulher D. Mor Pires, que instituíram um morgado na freguesia de São Pedro de Évora. Este apelido foi continuado pelo filho dos precedentes, Rui Rodrigues Patalim. São armas desta família: escudo esquartelado, sendo o primeiro e o quarto de ouro, com quatro faixas de azul, e o segundo e o terceiro de vermelho, com um castelo de ouro. Timbre: o castelo do escudo.»

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira tem informação praticamente igual, e o mesmo se encontra em forma mais abreviada no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José P...