Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se é mais correto dizer-se «do Miratejo» ou «de Miratejo». Diz-se «vivo no Miratejo» ou «vivo em Miratejo»?

Obrigado.

Resposta:

Oficialmente, usa-se o topónimo – do concelho do Seixal (Setúbal) e de criação relativamente recente – sem artigo definido. Noutras páginas da Internet, também aparece sem artigo definido. No entanto, há oscilações no próprio uso, com falantes que dizem «o Miratejo», talvez ainda conservando a memória das origens do topónimo, nome de um empreendimento de finais dos anos 60 do século passado: «o (projeto/empreendimento) Miratejo».

Pergunta:

O verbo "popular" existe na norma culta? Ele é muito utilizado em informática, por exemplo: «Como popular uma tabela com dados hierárquicos existentes?»

Resposta:

O uso de popular como verbo (geralmente ocorre como adjetivo e substantivo) existe no jargão da informática, mas não é aceite noutros âmbitos. A maioria dos dicionários que consultei não regista esta forma como verbo; contudo, o dicionário da Porto Editora (na Infopédia) consigna esse uso: «popular [...] verbo transitivo INFORMÁTICA importar dados para (uma base de dados); inserir conteúdo em (base de dados).» Trata-se, como indica a mesma fonte, de termo com origem no inglês to populate, que significa genericamente «povoar», mas que, no âmbito da informática, se emprega como o sentido «preencher com dados» (ver Oxford English Dictionary).

É curioso anotar que, embora populate pudesse ser traduzido por povoar, determinando a emergência de uma nova aceção, o decalque da forma inglesa levou a manter, em português, a sequência popul-, já existente em português sob a forma popul- (é um radical), e a substituir a terminação -ate pela portuguesa -ar. Não é de excluir a analogia com casos como os de create, correspondente a criar, e originate, ou seja, originar.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a opção correta para a seguinte palavra: "fototipo" ou "fotótipo". É referido ao tipo de pele face à luz solar.

Muito obrigada e parabéns pelo excelente trabalho que sempre fazem.

Resposta:

Recomendo a forma fotótipo*, porque o elemento de composição -tipo não deve (ou não deveria) receber acento tónico. Isto não impede que no uso ocorram oscilações como logótipo e logotipo, ou protótipo e prototipo. O mesmo acontece com fotótipo, que ocorre frequentemente como fototipo, sobretudo em referência a tipos de pele. No entanto, a respeito deste caso, lembro que a posição do Ciberdúvidas tem sido aconselhar a opção pela forma logótipo (ver Textos Relacionados), e, por isso, também me parece preferível fotótipo.

* A palavra tem dois significados: «reprodução fototipográfica» (cf. fototipiar ou fototipar, no dicionário da Porto Editora, na Infopédia); «tipo de pele em função da coloração e sensibilidade à luz solar» (exemplo: «... um factor de proteção solar adequado ao vosso fotótipo...», exemplo citado pelo Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).

Pergunta:

Por que usamos a expressão «ter um dedo de prosa» para designar uma conversa? Tem a ver com o fato de que falamos em prosa?

Resposta:

De facto, falamos geralmente em prosa, o que explica a expressão. Note-se que os próprios dicionários registam o uso de prosa na aceção de «conversa», como acontece com o Dicionário Houaiss, que abona este significado: «Tive dois dedos de prosa com o compadre» (ver também o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). Em Portugal, é mais corrente dizer-se «dois dedos de conversa»; a expressão «dois dedos de prosa» afigura-se mais brasileira para os falantes portugueses.

Pergunta:

Qual o termo exacto para denominar o aparelho que permite o registo biométrico determinante da assiduidade de um trabalhador?

As palavras "decímetro" e "pontómetro" existem na língua portuguesa?

Resposta:

A expressão corrente é «sistema de controlo biométrico». Na gíria, pelo menos, em Portugal, há quem lhe chame "pontómetro" e "dedómetro"; exemplo: «Estes documentos registam automaticamente as faltas através do sistema de controlo biométrico (conhecido como “pontómetro” ou “dedómetro” por efectuar o controlo das entradas e saídas através das impressões digitais)» (NetConsumo, 4/02/2011).

Não encontrei abonações para o emprego de "decímetro"* no contexto em questão.

* Geralmente, decímetro é a designação de uma «unidade de medida de comprimento, de símbolo dm, que equivale à décima parte do metro» (Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disponível na Infopédia).