Pergunta:
Recentemente fui indagado, por um amigo, quanto à existência da expressão corriqueira "de modo algum" com o sentido de "de jeito nenhum". Gostaria de saber se a expressão de fato existe, pois há um gramático brasileiro que teria afirmado que a tal está incorretamente empregada. O correto, segundo ele, seria "de modo nenhum".
Resposta:
Rodrigo de Sá Nogueira no seu «Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem» diz, na entrada De modo nenhum. De modo algum, o seguinte: «'As línguas são o que são e não o que deveriam ser'. Este é um princípio de que não deve procurar fugir quem se propõe tratar dos factos da linguagem. – Outro princípio há a que temos de nos subordinar, e que está na base do anterior: é o de que 'o uso faz lei'. – Ainda outro princípio podemos formular: é o de que 'na formação e na evolução das línguas, a lógica nem sempre impera'. – Vejamos como, na prática, as duas expressões da epígrafe demonstram o que fica dito pela análise dos seguintes exemplos: 'Pensas abdicar dos teus direitos?'. 'De modo nenhum!' ou 'De modo algum!', responde-se indiferentemente no falar normal. Estas duas fórmulas são corrente e indiferentemente usadas; são ambas do uso geral; são ambas factos consumados da língua; são, portanto, ambas correctas!, se bem que, sob o aspecto da lógica gramatical, elas sejam contraditórias. Vejamos: – Tanto faz dizer 'de modo nenhum' como de 'nenhum modo'; mas já não acontece o mesmo com 'de modo algum' e 'de algum modo'. – Querendo dizer que 'não estou disposto a abdicar dos meus direitos', é lógico gramaticalmente dizer 'de nenhum modo' ou 'de modo nenhum abdicarei dos meus direitos'. Dizer, porém, 'de algum modo' ou 'de modo algum abdicarei dos meus direitos', perante a lógica gramatical só poderá significar, salvo melhor juízo, 'que estou disposto a abdicar dos meus direitos'. Contudo, porque são certos os princípios acima enunciados, temos que, à pergunta 'Pensas abdicar dos teus direitos?', se respondo 'de modo algum', digo 'nã...