Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como não encontrei um espaço reservado para comentários dentro deste "site", estou utilizando esta caixa de perguntas para tentar fazer uma contribuição a uma pergunta de outubro que considero ter sido respondida de forma incompleta pelos consultores do Ciberdúvidas. Esta pergunta foi formulada por Márcia Regina (Argentina). Ela queria saber da origem do sotaque carioca e suas diferenças com o sotaque paulista.

Como foi respondido, o sotaque paulista teve forte influência da imigração italiana naquele estado, especialmente na capital. O que eu estranhei foi a ausência da explicação para o sotaque carioca. Isto porque a maior característica de sonoridade deste sotaque, o chiado do "s" que assume o som de "x", vem exatamente da influência da grande colônia portuguesa que ali habita. Esta influência é muito mais intensa do que no interior do país, visto que, como capital do Brasil durante os tempos em que o país era colônia de Portugal, a cidade do Rio de Janeiro detinha a maior proporção de funcionários portugueses em terras brasileiras. Houve uma intensificação desta influência com o refúgio da família real portuguesa que, em 1808, trouxe mais de 15 mil cortesãos portugueses para o Rio. Ainda na primeira metade do século XX esta cidade recebeu uma grande leva de imigrantes portugueses que hoje dominam o ramo de padarias neste lugar. É muito comum encontrar portugueses também na atividade de carros de aluguel ou de praça (os "táxis").

Em suma, enquanto o "paulistês" é fortemente influenciado pela entonação do italiano, o "carioquês", por sua vez, tem sua sonoridade ligada ao sotaque português europeu mais antigo.

Uma forte característica do sotaque português europeu atual, que ressalta aos ouvidos dos brasileiros, é a freqüente atenuação ou quase supressão da vogal que precede a sílaba tônica (ou tónica). Esta foi uma diferenci...

Resposta:

Concordamos com a generalidade das afirmações que faz - e o Ciberdúvidas agradece. Mas daríamos maior importância ao efeito reprodutor que teve o sotaque luso quando a família real e a corte se instalaram no Rio de Janeiro.

Tornou-se moda pronunciar o s final como os portugueses - os reinóis. Estar mais próximo do centro do poder era falar como a corte. Assim, os cariocas passaram a imitar o "chiar" da consoante s (fricativa palatal) em final de sílaba, a exemplo dos que estavam perto da família real.

Um processo semelhante de relação da política com a história da língua ocorreu na Espanha com o j aspirado. Este só aparece vindo do árabe pelo facto de Madrid - antes de ser capital do império espanhol - ter estado sob influência moura. Como então o centro de poder em Portugal se situava mais a norte, em região onde a influência moura era menor, este fonema não passou a fazer parte do dia-a-dia dos portugueses e quem o utilizava era visto como pessoa estranha ao círculo da corte.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem sobre a origem de Celeste.

Resposta:

O «Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa» de José Pedro Machado diz, na entrada Celeste, o seguinte: «Não creio tratar-se do adj. celeste (…), mas indirectamente do latim caeleste-, 'do céu: com origem no céu, relativo aos deuses: divino, maravilhoso'».

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado da palavra osteopenia.

Resposta:

Segundo o dicionário brasileiro Aurélio, osteopenia, termo da Histologia, é «Diminuição da massa óssea, conseqüente à predominância do desgaste ósseo normal sobre a síntese da matriz óssea».

O Dicionário Médico (português) de L. Manuila, A. Manuila, P. Lewalle e M. Nicoulin, edição da CLIMEPSI Editores, diz, sobre osteopenia, o seguinte: «Diminuição da densidade dos ossos, por redução do número dos osteoblastos»

Pergunta:

Gostaria de saber mais sobre a origem do nome Álamo. Quando procuro a história deste nome em Portugal o mesmo não consta na lista de nomes portugueses.

Resposta:

O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado regista o apelido Álamo e remete para o substantivo masculino álamo.

A consulta do «Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa», do mesmo autor, dá-nos a origem deste termo: «do latim alamu-, de alnu-, 'álamo', com influência de ulmu-, 'olmo', se bem que alguns autores (como Corominas) hesitem na origem do voc. port., dando-lhe até etimologia incerta, com probabilidades para uma hipótese pré-romana (…). Na Beira dizem álemo (…) ou almo; no Algarve áirmo (…), o que parece comprovar a existência do lat. almu-, primeiro produto daquele cruzamento (…). Alamo está hoje largamente representado na toponímia.»

Pergunta:

Gostaria de uma clarificação sobre a ortografia e prenunciação (em Portugal) da palavra "dálmata/dalmata". Desde pequeno, sempre ouvi dizer "um cão dalmata" (dàl-má-ta). A minha filha tem um livro infantil onde a palavra está escrita como tal, sem acento agudo no "a", e até rima. Mas vejo no dicionário que se deve escrever com acento. Será que há uma forma "popular" e outra "erudita" desta palavra?

Pedro J. Val-Flores G. Vieira

O nome deste cão, cuja raça se supõe originária da Dalmácia (na Jugoslávia), é dálmata. Assim aparece registado no «Vocabulário da Língua Portuguesa» de Rebelo Gonçalves e nos dicionários consultados.

Carlos Marinheiro

08/08/00

A Dalmácia localiza-se na Croácia

Em relação à resposta de 8 de agosto de 2000 dada pelo senhor Carlos Marinheiro na qual afirma que a Dalmácia (pergunta sobre 'Cão Dálmata') localiza-se na Iugoslávia-Jugoslávia, gostaria de manifestar meu pesar com tamanha desinformação, pois a Dalmácia sempre foi parte da Croácia, e esta última é que foi sim parte do estado iugoslavo, que nunca foi um país mas apenas um Estado totalitário.

Corrijam a informação para alegria dos milhares de descendentes de dálmatas que vivem em São Paulo - Brasil.

HVALA LIJEPA – Muito obrigado.

Resposta:

Cibernota – Agradeço a informação, e peço desculpa pela inexactidão que se deve à consulta de obras importantes sobre a língua portuguesa, mas que se encontram desactualizadas no que diz respeito à presente distribuição geográfica.