Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostava de saber a etimologia e tudo o que puder ser informado sobre a palavra verdade.

Resposta:

A palavra verdade vem «do lat[im] verĭtāte-, "a verdade, o verdadeiro; a realidade; a verdade em pronúncia — as regras"» [cf. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, Livros Horizonte]. Significa «conformidade entre o pensamento ou a sua expressão e o objecto de pensamento; qualidade do que é verdadeiro; realidade; exactidão; rigor; precisão; representação fiel; boa-fé; sinceridade; coisa certa; axioma; premissa evidente; máxima» [cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora].

Pergunta:

Não encontro nos dicionários a palavra escacilhar, no entanto, ela existe em vários sites relacionados com a extracção de rochas ornamentais e para alvenarias.

Resposta:

Não encontra, mas pode ver, no Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora, o substantivo da área da arquitectura escacilho; trata-se de «agregado constituído por lamelas de pequenas dimensões provenientes de britagem». A partir de escacilho, pode-se formar o verbo escacilhar, justificado por estar bem formado e, ainda, pela necessidade dele na área em questão.

Pergunta:

Na revisão de uma tese na área da Biomédica, deparo-me com a dúvida sobre a existência das seguintes palavras: "dipólos"; "coseno"; "invariância"; "espectograma"; "desmodulação"; "recursão"; "audiologia"; "centroparietal".

Obrigada.

Resposta:

Dipolo (de di-+pólo), termo da física (eléctrico), é «sistema de duas cargas iguais e de sinais contrários colocadas a uma distância muito pequena uma da outra». A sua grafia é sem acento.

Co-seno é assim que se escreve; da outra forma, o s teria de se ler z. Veja a resposta anterior «Co-seno».

Invariância é «propriedade do que é invariante», e este termo, por sua vez, «diz-se de uma grandeza, de uma propriedade ou de uma relação que se conserva numa transformação de natureza matemática ou física».

Espectrograma (e não "espectograma") é «representação gráfica de um espectro»; e o sentido de espectro, neste caso, é «resultado da dispersão, por um prisma ou uma rede de difracção, de qualquer radiação composta nas suas radiações simples».

Desmodulação quer dizer «acto ou efeito de desmodular», tratando-se desmodular (termo da área da electrónica) de «extrair informação de (uma onda modulada) por meio de um desmodulador».

Audiologia é «ramo da ciência que estuda a audição e as suas perturbações».

Recursão é um vocábulo das artes gráficas e significa «ação de recorrer, de reajustar (linhas, colunas ou páginas)» [cf. Dicionário Eletrónico Houaiss].

Centroparietal não está registado nos dicionários consultados. Embora não esteja mal formado, só com o contexto é possível chegar a alguma conclusão.

 

Pergunta:

Qual a grafia correcta dos seguintes termos médicos:

"Endonervo", ou "endoneuro"?

"Perinervo", ou "perineuro"?

"Epinervo", ou "epineuro"?

Obrigado.

Resposta:

As grafias registadas no Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa (Porto Editora), são endonervo, perinervo e epinervo. Endonervo (de endo- e do grego neûron, «nervo») é «tecido conjuntivo que envolve cada fibra nervosa no interior de um feixe nervoso». Perinervo (de peri- e nervo) define-se como «bainha de tecido conjuntivo que envolve um feixe de fibras nervosasde um nervo periférico». Epinervo (de epi- e nervo) é «bainha de tecido conjuntivo que reveste um nervo periférico».

O Dicionário Médico, de Ludmila Manuila, Alexandre Manuila, P. Lewalle e M. Nicoulin (Climepsi Editores, Lisboa), também acolhe endonervo e epinervo, mas prefere perineuro.

Pergunta:

Como se chama a planta do arroz e a do ananás?

Resposta:

A planta do arroz também se designa por arroz. Assim, arroz (termo da área das angiospermas) é «erva ereta de até 1 m (Oryza sativa), da fam[ília] das gramíneas, com flores em espiguetas e cariopses coriáceas, prov[avelmente] de origem asiática e cultivada há mais de 5000 anos, com inúmeras variedades, pelos grãos, que constituem a dieta básica de grande parte da população mundial, esp[ecialmente] da Ásia» ou «o grão dessa planta» [cf. Dicionário Eletrônico Houaiss].

Quanto a ananás, trata-se de «planta intertropical, da família das Bromeliáceas, muito cultivada pelas suas saborosas infrutescências, também chamada ananaseiro» ou «infrutescência (sorose) desta planta» [cf. Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora]. Assim, neste caso, a planta tanto se chama ananás como ananaseiro.