Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Será correcto utilizar prolixo ou prolífico na frase: «José Saramago escreveu dezenas de romances, por isso é considerado um autor "prolixo"», ou «..."prolífico"»?

Obrigado.

Resposta:

De acordo com resposta anterior, «O adjectivo prolixo (do latim prolīxus) quer dizer "muito longo, extenso, excessivo, enfadonho, fastidioso, difuso"». Não será, certamente, o caso do "nosso Nobel", tão apreciado em todo o mundo!...

Quanto a prolífico, palavra que vem «do lat[im] prole-, "prole" + facĕre, "fazer"», significa, entre outras coisas, «fecundo; produtivo». É a palavra adequada para o contexto referido.

Pergunta:

Gostava de saber se é correcta a utilização das expressões "gongórico" e "gongorismo" e a génese dessas expressões.

Obrigado.

Resposta:

Sim, é correcta. Gongórico (de Góngora, antr. + -ico) significa «do gongorismo ou a ele relativo» ou «em que há gongorismo». Por sua vez, o gongorismo (termo da área da literatura) é «estilo introduzido na literatura espanhola por Luis de Góngora, e depois adoptado por outros escritores peninsulares, em que predominavam os latinismos, os neologismos, os trocadilhos, as metáforas e os pensamentos subtis» [fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora].

Sobre gongórico, o Dicionário Eletrônico Houaiss ainda acrescenta que é, por extensão de sentido e de uso pejorativo, «rebuscado, precioso, afetado»; em relação a gongorismo, considera que se trata de «estilo literário que se enquadra dentro do Barroco e que tem como seu maior expoente o poeta espanhol Luis de Góngora y Argote (1561-1627), caracterizado por um hermetismo deliberado, emprego de palavras eruditas, afetação levada ao extremo, inversão da frase e abundância de figuras de linguagem, esp[ecialmente] a metáfora» ou «a escola literária formada segundo essa estética».

Pergunta:

Como se deve escrever: "booleano", ou "booliano"? Penso que deve ser a última (de "Boole" + "-iano").

Desde já, obrigado pela resposta.

Resposta:

Este adjetivo, derivado de Boole, escreve-se booleano. No entanto, o Dicionário Eletrônico Houaiss (brasileiro) também regista a variante booliano, embora considere preferível o vocábulo booleano. Trata-se de termo da lógica matemática «relativo a George Boole (1815-1864), criador da lógica matemática moderna, e/ou a seus trabalhos nos campos da álgebra e da lógica simbólica».

 

Pergunta:

Como se conjuga o verbo gerir no presente do conjuntivo?

«Que eu gire, que tu giras, que ele gira, que nós giremos, que vós gireis, que eles giram»?

 

Resposta:

Que eu gira, que tu giras, que ele gira, que nós giramos, que vós girais, que eles giram [Fonte: MorDebe].

O Dicionário Houaiss indica que o verbo gerir significa «exercer gerência sobre; administrar, dirigir, gerenciar» e, como todos os verbos com a terminação -erir, tem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo em -iro (daqui se forma o conjuntivo -ira, iras, ira, etc.),  «regularizando-se nas demais f[ormas], que têm o -e- aberto nas f[ormas] rizotônicas», isto é, com acento tónico no radical: geres, gere, gerem.

Pergunta:

"Reequilíbrio", ou "reequilibro"?

Resposta:

Reequilíbrio [«ato ou efeito de reequilibrar(-se); novo equilíbrio», segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss] é um substantivo, com emprego em certos contextos; por exemplo: «O reequilíbrio da sua vida ainda era possível.»

Reequilibro é forma do verbo reequilibrar na 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo. Veja, por favor, na MorDebe.

Assim, se percebi bem a sua pergunta, ambas as formas são correctas.