Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a origem da palavra arte?

Resposta:

A palavra arte vem do «lat[im] ars,artis "maneira de ser ou de agir, habilidade natural ou adquirida, arte, conhecimento técnico (p[or] opos[ição] ao lat[im] natūra "habilidade natural"), tudo que é de indústria humana, ciência, ofício, instrução, conhecimento, saber, profissão, destreza, perícia, habilidade, gênio, talento, qualidades adquiridas (p[or] opos[ição] a ingenĭum "qualidades naturais")", pej[ejorativo] "ardil, fraude", p[or] ext[ensão] "produto da arte, regras de uma arte, a parte teórica de uma arte, tratado, obra importante"».

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Existe a palavra "organela" na língua portuguesa?

Resposta:

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, regista o nome da área da citologia organelo (do lat[im] cient[ífico] organella), mas remete-nos para organito (o termo preferível). Organito (do gr[ego] órganon, "órgão", + -ito, ou do fr[ancês] organite) é a «parte especializada da célula dos organismos unicelulares». Por sua vez, o Dicionário Eletrônico Houaiss acolhe organela (do lat[im] cient[ífico] Organella) e diz que se trata de «partícula limitada por membrana (mitocôndria, complexo de Golgi, lisossomo etc.), presente em praticamente todas as células eucarióticas». Na entrada organito, este dicionário diz que é «cada um dos elementos que constituem a célula» ou «designação dada a organismos de forma e funcionamento regular, mas que não possuem a propriedade de se gerarem uns aos outros (p. ex., os glóbulos de sangue, os espermatozóides etc.)».

Agora, respondendo à sua pergunta, a palavra existe, sim, na língua portuguesa.

Pergunta:

Diz-se "fulgorosa", ou "fulgurosa"? A verdade é que vem de fulgor, mas parece-me feio "fulgorosa"...

Resposta:

Escreve-se fulguroso(a), dado que este adjectivo vem «de fúlguro + -oso»; por sua vez, fúlguro vem «do lat[im] vulg[ar] fulgŭru-, "brilho"».

O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, ao registar fulguroso, remete-nos para fulgurante, o termo preferível. Este vem «do lat[im] fulgurante-, part[icípio] pres[ente] de fulgurāre, "brilhar"».

Já agora, fulgor vem «do lat[im] fulgōre-».

Pergunta:

Gostaria de saber se a expressão «semear pérolas a porcos» está incorrecta.

Obrigada pela atenção dispensada.

Resposta:

O Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves (Editorial Notícias), regista a expressão «Deitar pérolas a porcos» e a variante «Dar pérolas a porcos». Com semear, não encontrei a expressão.

Diz este dicionário que «oferecer coisas finas, delicadas, ricas ou requintadas a pessoas rudes, ignorantes ou insensíveis é «deitar pérolas a porcos»; e acrescenta que «É mais uma expressão com origem bíblica. No Evangelho segundo S. Mateus, cap. 7, no Sermão da Montanha, Cristo disse: "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis pérolas a porcos, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem."»

Pergunta:

Beato/beata é apenas substantivo, ou pode funcionar também como adjectivo? A expressão «muito beato» estará correcta?

Obrigada.

Resposta:

A palavra beato(a) é substantivo (nome) ou adjectivo, de acordo com o contexto. Em «Um beato» ou «uma beata», é substantivo (nome), mas na expressão «um homem beato» já é um adjectivo. No Dicionário Eletrônico Houaiss, beato está registado como «adjetivo e substantivo masculino». Trata-se, em teologia, de «que ou quem goza da bem-aventurança celeste; bem-aventurado» e, em religião, de «que ou aquele que foi beatificado pela Igreja Católica» e «que ou aquele que demonstra grande devoção religiosa».