Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Sofro de uma "condição" de saúde chamada de leucopenia que significa um baixo índice de glóbulos brancos no sangue.

Sei que se escreve sem acento, mas já ouvi dizer "leucopenia" e "leucopénia" mesmo entre médicos. Gostaria de saber qual a forma correcta de pronunciar esta palavra.

Obrigada.

Resposta:

Em todos os dicionários consultados (incluindo os médicos), a grafia da palavra é leucopenia.

O Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, diz que se trata de «diminuição do número de leucócitos no sangue circulante, abaixo de 5000-7000 por mm3».

O Dicionário Médico de L. Manuila, A. Manuila, P. Lewalle e M. Nicoulin, edição da CLIMEPSI Editores, ainda diz que leucopenia é «sinónimo de leucocitopenia».

Pergunta:

Surgiu-me a nível profissional um reparo que gostaria de esclarecer. É correcto dizer-se «uma da tarde» ou devemos dizer sempre «treze horas»?

Obrigado.

Resposta:

Treze horas e uma da tarde são a mesma coisa, e trata-se de expressões igualmente correctas. Contudo, em textos formais, é preferível usar treze horas. Há uma maior precisão em treze horas, visto que o dia tem vinte e quatro horas.

Pergunta:

Gostaria de saber o significado da expressão «custou os olhos da cara», para um trabalho de meu filho da 6.ª série.

Obrigada.

Resposta:

Orlando Neves, no seu Dicionário de Expressões Correntes (Editorial Notícias), diz que a expressão «custar os olhos da cara» significa o mesmo que «custar os dentes da boca», ou seja, «ser caro; adquirir-se ou suportar-se com muita dificuldade». De forma semelhante, «custar couro e cabelo» é uma expressão que quer dizer «custar muito caro».

Também o Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira (Papiro Editora), regist{#|r}a as expressões «custar os olhos da cara» («custar muito caro; demandar, exigir grande esforço; ser muito caro ou difícil») e «custar os dentes da boca» («custar, ser muito caro»). Acolhe, ainda, as expressões semelhantes «custar cara a brincadeira» («ser dispendioso; ter consequências negativas») e «custar os bofes» («custar caro»).

Pergunta:

Gostaria de saber se é correta a utilização da expressão "a suba" do dólar, e caso não seja, o por quê.

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista o substantivo (nome) feminino suba e diz que se trata de um regionalismo do Rio Grande do Sul (Brasil) de uso informal; significa «alta de preços».

Assim, parece-nos correcto o uso do termo suba, sem esquecer, contudo, que se trata de um regionalismo conhecido no estado do Rio Grande do Sul, mas provavelmente pouco utilizado no resto do Brasil. Por outro lado, se suba é «alta de preços», dizer "suba do dólar" ou "alta de preços do dólar" acaba por ser de aceitabilidade duvidosa, uma vez que a qualquer tipo de moeda se costuma associar a palavra valor («valor do dólar/euro/iene») em vez de preço. Contudo, o termo preço é compatível com palavras referentes a bens que se vendam e comprem, e, assim, aceita-se que se fale, por exemplo, em «alta de preços do vestuário» e, logicamente, em «suba do vestuário».

Segundo o Dicionário Houaiss, suba é, etimologicamente, um «derivado regressivo de subir». Assinale-se, porém, que a palavra também existe no espanhol da Argentina e do Uruguai, provavelmente como derivado regressivo de subir, verbo que no infinitivo tem a mesma forma que em português (cf. Diccionario de la Lengua Española, da Real Academia Espanhola). Este facto sugere antes que se trata de uma criação dos falantes do espanhol da zona do rio da Prata (partilhada entre a Argentina e o Uruguai), tendo passado daqui para a região brasileira vizinha, ou seja, o estado do Rio Grande do Sul.

Pergunta:

Limusino é o natural de Limoges. Haverá qualquer relação com a palavra "limusine", nome que vulgarmente se dá a um automóvel de luxo? Ou limusine-carro é um disparate?

Resposta:

Limusino, como diz, é um adjectivo «relativo à cidade francesa de Limoges» ou, como nome, «natural ou habitante de Limoges»; vem «do fr[ancês] limousin». Por sua vez, limusina é «automóvel luxuoso e longo, cujo habitáculo de passageiros está separado do motorista por vidro ou janela e isolado do exterior por vidros escuros» e vem «do fr[ancês] limousine, "de Limoges", cidade francesa» [Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora].

O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que limusino vem do «fr[ancês] limousin (limosin 1383), do lat[im] tar[dio] Lemovicīnum,i "região dos lemovices, Limusino"; cp. ant. provç. la lengua lemosina (início sXIII) "a língua limusina"». Quanto a limusina, este dicionário não regista o termo, mas acolhe limosina, como regionalismo de Portugal, e remete-nos para limusine (termo preferível no Brasil). Diz que vem do «fr[ancês] limousine (1841) "espécie de pelerine de lã grosseira usada pelos pastores limusinos", (1902) "antiga carroceria de automóvel em que só a parte de trás era fechada; mais recentemente, certo tipo de automóvel de luxo, internamente bastante espaçoso e que tem uma separação entre o chofer e os bancos dos passageiros", fem[inino] subst[anti]v[ado] de limousin "originário de Limusino ou de Limoges, região noroeste do maciço central da França ou cidade desta região" e este, do lat[im] tard[io] Lemovicīnum,i "id.", de lemovīces,um "lemovice"; limousine, na ac[e]p[ção] de "veículo", poderá ter sido uma evolução semântica de seu signf. primeiro, por meio de uma comparação entre o manto que protege da chuva e o automóvel que é bem fechado, ou então uma homenagem de Charles Jeantaud (1843-1906), a quem se atribui a invenção desse tipo de carroceria, a...