Pergunta:
É comummente utilizado por vários políticos, jornalistas, comentadores e várias outras figuras públicas, na televisão, no início de qualquer discurso o "dizer que", "observar que", "acrescentar que", sem qualquer continuação na sintaxe que permita que a utilização do verbo no infinitivo seja um sujeito. Exemplo:
«Boa noite a todos os presentes. Em primeiro lugar, dizer que, estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia. Acrescentar que, apresentaremos ainda hoje um conjunto de medidas de auxílio á economia. Observar que, estaremos atentos ao aumento de casos.»
Não tenho qualquer dúvida do erro. Na minha opinião, é um erro grosseiro, que se está a generalizar.
Gostaria que o Ciberdúvidas deixasse registado o quão grave é este erro, para bom uso da língua portuguesa.
Resposta:
Com efeito, a construção «dizer + oração completiva» pode desempenhar a função de sujeito, como acontece em (1):
(1) «Dizer que chegaria atrasado teria sido um ato de delicadeza.»
Todavia, como afirma o consulente, não é o que acontece nas frases em questão, de que (2) se constitui como exemplo:
(2) «Em primeiro lugar, dizer que estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia.»
Esta construção será, a meu ver, uma estrutura truncada que resulta da omissão de uma oração subordinante, que poderia corresponder ao que se apresenta em (3), onde se destaca a oração que poderá ter sido omitida:
(3) «Em primeiro lugar, gostaria de dizer que estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia.»
Assim sendo, trata-se de uma construção que é característica de contextos informais de uso da língua, sobretudo na modalidade oral informal, e que poderá estar a constituir-se como modismo. Não obstante, deverá ser evitada em contextos de uso mais formais.
Disponha sempre!