Pergunta:
Eu vejo que na língua italiana há uma liberdade na colocação dos termos nas orações. Parece que o português também concede está possibilidade, mas eu preciso ter certeza disso.
Sabe-se que, quando se usam orações do tipo de «O homem matou o dragão», «o homem» cumpre a função de sujeito, e «o dragão», a de objeto.
Mas, se se mantiver a mesma estrutura da oração e se também se puser uma vírgula após «o homem», «o homem» cumpriria a função de objeto, e «o dragão», a de sujeito.
Até agora vimos a estrutura SVO [sujeito-verbo-objeto] e OVS [objeto-verbo-sujeito], respectivamente.
Aí vêm as perguntas:
1.ª Seria possível uma estrutura do tipo VSO [verbo-sujeito-objeto] e VOS [verbo-objeto-sujeito] como, respectivamente, «Matou o homem, o dragão» e «Matou, o dragão, o homem»? (Sem ambas as orações possuírem a retomada do objeto pleonástico)
2.ª Também gostaria de saber se é possível as estruturas SOV [verbo-objeto-sujeito] e OSV [objeto-sujeito-verbo] como se seguem, respectivamente: «O homem, o dragão, matou» e «O dragão, o homem matou»? (Ainda que ambas não sejam retomadas pelo objeto direto pleonástico)
3.ª Gostaria de saber se as vírgulas estão bem empregadas, de tal modo que nos exemplos se justifique o que é sujeito, verbo e objeto?
Desde já, meus agradecimentos.
Resposta:
Comecemos por recordar que se considera que a ordem canónica em língua portuguesa é SVO, o que se verifica na frase (1):
(1) «O João adorou este livro.»
Não obstante, o português permite também, entre outras, a ordem OVS, o que implica a inversão do sujeito:
(2) «Deste livro fala o João.»
Se colocarmos o sujeito no final da frase após o objeto, numa ordem VOS, como em (3), situação que exige o uso de vírgula antes do sujeito:
(3) «Adorou este livro, o João.»
Há, todavia, contextos em que o uso da vírgula pode ser dispensável. É o caso das frases copulativas identificadoras nas quais é possível usar a ordem invertida sem necessidade de recurso ao uso da vírgula:
(4) «O professor de português é o João.»
Em frase como (5), o uso da vírgula também é dispensável:
(5) «Queremos este livro todos nós.»
Relativamente à questão que o consulente coloca em primeiro lugar, deveremos começar por afirmar que as construções apresentadas são muito pouco naturais, pelo que seria difícil encontrá-las em situações de uso correntes. Para além disso, visto que os constituintes se encontram ambos na forma singular, são geradores de ambiguidade quando a sua colocação na frase se afasta da ordem canónica. Todavia, se consideramos um contexto de pura análise linguística, diremos que na frase (6), se usarmos a vírgula antes de «o dragão», ela irá sinalizar que este constituinte é o sujeito deslocado, tal como acontece em (7) relativamente a «o homem»:
(6) «Matou o homem, o dragão.»
(6a) «?Matou o homem o...