Pergunta:
Surgiu-me uma dúvida quanto aos recursos estilísticos usados n´Os Lusíadas. No canto IV, na estância 30: «Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia / Dos que a tanto desejam, sendo alheia.»
Há alguma metáfora? Se sim, pode explicar porquê?
Obrigado.
Resposta:
Sim, a estrutura frásica que o consulente apresenta insere-se no canto IV d´Os Lusíadas, de Luís de Camões, em que a figura usada é a metáfora. Nas metáforas há alteração do sentido da(s) palavra(s), que adquire(m) uma significação diferente através de uma comparação subentendida de realidades distintas. Normalmente, o uso da metáfora serve para enriquecer e dar maior expressividade às situações descritas no texto.
Reproduz-se adiante a estrofe 30 do canto IV, a qual faz parte do relato sobre a batalha de Aljubarrota, travada em 1385 por castelhanos e portugueses:
«Começa-se a travar a incerta guerra:
De ambas partes se move a primeira ala;
Uns leva a defensão da própria terra,
Outros as esperanças de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra e a terra enfim semeia,
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.»
Os versos que aqui se apresentam são marcados pelo recurso à metáfora, pois o que se pretende salientar é o momento em que os castelhanos, que invadiram Portugal, acabam por morrer em grande número, caindo sobre a terra como se esta estivesse a ser semeada.