Pergunta:
Relativamente aos tempos compostos, tenho verificado que as gramáticas são pouco explícitas no atinente ao uso dos tempos compostos, pois não especificam as razões para se utilizar preferencialmente um determinado tempo composto em detrimento de um tempo simples, por exemplo. Gostaria, pois, de saber quais são as regras (se existem) que estão subjacentes à utilização dos tempos compostos, isto é, devemos usar preferencialmente o tempo composto ou o tempo simples de um determinado verbo e em que circunstâncias. Será o tempo composto uma marca da oralidade? Há questões que, a meu ver, têm de ser esclarecidas junto dos alunos para que percebam claramente a diferença entre as várias formas verbais e as suas regras, para as utilizar e aplicar adequadamente depois.
Resposta:
A sua pergunta assenta no pressuposto de que os tempos compostos são sempre equivalentes funcionais dos tempos simples, mas não é assim. Essa equivalência existe para o pretérito mais-que-perfeito, sendo a forma composta, na presente sincronia, mais frequente do que a simples, quer no discurso oral, quer no discurso escrito. Porém, ela não se verifica noutros tempos.
Vejamos alguns exemplos.
(i) O pretérito perfeito simples dá a acção anterior e acabada relativamente a um ponto de referência temporal (o acto de falar ou outro ponto explicitado no discurso):
«O Zé telefonou à Ana.»
O pretérito perfeito composto dá a acção como tendo início num momento anterior ao momento da elocução, prolongando-se até esse momento, e, consoante o significado lexical do verbo, exprime que a acção ocorreu um certo número de vezes (valor frequentativo):
«O Zé tem telefonado à Ana.»
(ii) O futuro simples indica que a acção é posterior a um ponto de referência absoluto, sem alusão à perfectividade ou imperfectividade da acção:
«Acabarei o trabalho seguramente amanhã.»
O futuro composto dá a acção como posterior a um ponto de referência relativo, indicando a acção como perfectiva:
«Quando chegares, eu já terei acabado o trabalho.»
Acresce que há tempos compostos que não têm correspondente simples, e vice-versa.
Como verá, não é pertinente dedicar uma aula, ou várias, a "dar" os tempos compostos, mas sim dedicar várias aulas a estudar a expressão do tempo (verbos e adverbiais em frases simples e compostas), nos seus múltiplos matizes.