Os interessados em obter a nova edição do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea vão ter de desembolsar 25 000$00, levar para casa dois grossos volumes que totalizam 3809 páginas e adentrar (registado no dicionário com abonação retirada de Camilo Castelo Branco) nas 70 000 entradas lexicais, 33 000 abonações linguístico-literárias de autores contemporâneos, cerca de 270 000 vocábulos com as suas combinações do português falado nos quatro continentes e apresenta ainda alterações de ortografia e expressão de 700 estrangeirismos de uso corrente na língua. O trabalho durou 12 anos, e o resultado deste esforço foi apresentado no último dia 26, em sessão solene na Academia de Ciências de Lisboa.
Desde 1988 que a equipa coordenada por Malaca Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro da Academia, vem trabalhando no projecto. Em 1975 surgiu um volume que contara com a participação de Jacinto Prado Coelho e Lindley Cintra, mas só agora é que de facto se pôs um ponto final na história do dicionário.
As adaptações dos estrangeirismos são muitas: «lóbi», «dossiê», «ateliê», «scâner», «stande», «stresse», «faxe», «telefaxe». O dicionário regista ainda muitos termos do calão, siglas como Umts (Universal Mobile Telecommunications System), ou brasileirismos como «estocar» (armazenar alguma coisa), «parabenizar» (expressar felicitações). A obra respeita a ortografia vigente e acaba por oficializar a grafia de estrangeirismos correntes.
A Academia das Ciências foi fundada em 1799, e 15 anos depois foi apresentado o primeiro volume do dicionário da academia, correspondente à letra A, sendo alguns dos responsáveis pelo projecto José Fonseca, Bartolomeu Inácio Jorge e Agostinho José da Costa. Críticas, como a de Alexandre Herculano na Dama Pé-de-Cabra, não pouparam os organizadores: «O onagro fitou as orelhas e... começou a azurrar, começou por onde, às vezes, as academias acabam.»
Esperemos agora para ver se os críticos vão ou não zurzir (última entrada do dicionário) a obra.
Publicado no semanário português "Expresso"/Cartaz de 28 de Abril de 2001