Manaus – «Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar. Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar». O verso do poema de Thiago de Mello, que [completou 95 anos no dia 30/03/2021], ainda é um dos mais proclamados e reconhecidos internacionalmente como um símbolo de resistência.
Poeta, tradutor, escritor, jornalista, artista gráfico e roteirista, Amadeu Thiago de Mello nasceu no município de Barreirinha, no interior do Amazonas, em 1926.
Ainda na infância, ele iniciou os estudos em Manaus, onde também ingressou na Faculdade Nacional de Medicina – graduação que não chegou a concluir.
O engajamento político e social do poeta no Brasil rendeu perseguições pelo governo militar, o forçando a se exilar em Santiago, no Chile.
A carreira literária seguiu em paralelo ao trabalho de oposição ao governo de Getúlio Vargas. No mesmo período, ele também dirigiu o Departamento Cultural da Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro e serviu no Itamarati como agente diplomático de cultura do Brasil na Bolívia e no Chile, onde conheceu Pablo Neruda [tradutor da recente edição bilingue do poema mais emblemático da sua obra, Estatutos do Homem].
[Autor de] Faz Escuro, Mas Eu Canto e de Estatutos do Homem, que se tornaram os poemas mais famosos do amazonense. Refletindo o contexto autoritário, as obras assumem uma oposição ao regime militar no Brasil [instaurado em 1964], com forte conteúdo político.
As obras literárias tornaram Thiago de Mello conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos. Após a cassação política, ele também viajou para vários países, rumando a Europa. Hoje, os poemas foram traduzidos para mais de 30 idiomas.
Mês de homenagens .
No estado natal do Amazonas, Thiago de Mello recebeu um mês de homenagens com com a criação de um site, o vidaecultura.manaus.am.gov.br, além de instalação de faixas, banners e outdoors [na capital] em Manaus.
Segundo o secretário Marcos Apolo Muniz, a proposta conta a trajetória do poeta da floresta, com passagens sobre a saída dele do município de Barreirinha, onde passou a infância nas margens do rio Andirá, a estreia na literatura, em 1951, com o livro Silêncio e Palavra e a experiência do exílio durante a ditadura militar no Brasil, período que marcou a obra de Thiago de Mello.
Em 1966, Thiago de Mello ergue a voz em Faz escuro, mas eu canto, a serviço do homem, da liberdade e, hoje, neste difícil momento que [se vive no Brasil de pandemia e de forte tensão política], traz esperança nos versos escritos pelo poeta. «É um grito de força e esperança para seguirmos em frente, porque ‘amanhã é um novo dia’», nas suaspróprias palavras
No aniversário do escritor, o Governo do estado de Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, reuniu artistas de diferentes segmentos para leitura do poema Faz escuro, mas eu canto.
A leitura do poema tem a participação de nomes do teatro, com os atores Taciano Soares, Ana Cláudia Motta e Isabela Catão; do audiovisual, com a cineasta Danielle Nazareno é o seu poema mais emblemático; da literatura, com o escritor Jan Santos; e da música, com os cantores Miltinho Cabocrioulo, Anne Jezini e Karen Francis; e o músico e filho do poeta, Thiago Thiago de Mello.
Moacyr Massulo, que conduz a homenagem e assina roteiro e produção do vídeo, destaca que cada artista convidado gravou o vídeo em casa, recitando o poema do próprio celular.
«Já a apresentação – acrescenta – foi desenvolvida através do nome do poema, sempre saindo do escuro e dando voz a obra do poeta, além de trazer como referência o figurino característico de Thiago de Mello: o traje todo branco.»
Cf. Exposição Thiago de Mello 95 anos de vida, poesia e amor por Manaus
Notícia publicada no jornal Em tempo, em 30 de março de 2021, aqui transcrita com a devida vénia.