Faleceu em Londres, em 8 de junho de 2022, a pintora Paula Rego.
Nascida em Lisboa, em 1935, Paula Rego ingressou na Slade School of Art, em Londres, em 1952. Em 1972, estabeleceu-se definitivamente na capital britânica, mas mantendo-se sempre muito ligada a Portugal.
Classificando-a como «uma das pintoras mais geniais do nosso tempo», com uma obra que «denuncia o preconceito, a condição da mulher, as formas de dominação sexual e social na vida portuguesa», Francisco José Viegas sublinha (Correio da Manhã, 09/06/2022) que «há um contínuo de estranhamento, contorção e prevaricação nesse trabalho que é um derradeiro esforço para manter a dimensão figurativa na pintura, ao lado de nomes como Lucian Freud ou Francis Bacon».
Além disso, Paula Rego distingue-se pela exploração de temas e situações dos contos populares e da narrativa de ficção de Portugal. A literatura oral tradicional é referência assídua nos seus quadros: «[...] enquanto mulher, revê nos desafios narrados a sua própria experiência criando assim um imaginário íntimo que a ajuda a enfrentar os desafios do presente», comenta a investigadora Leonor de Oliveira ("Os contos tradicionais no percurso artístico de Paula Rego", Fundação Calouste Gulbenkian). A ficção portuguesa também motivou em várias ocasiões a criatividade da pintora: são exemplos a série Maria Moisés e outras histórias, construída a partir da leitura da novela “Maria Moisés” de Camilo Castelo Branco; a série intitulada A Dama Pé-de-Cabra, a partir de “A Dama de Pé de Cabra – Rimance de um Jogral (século XI)”, das Lendas e Narrativas, de Alexandre Herculano; e a série O crime do Padre Amaro, dedicada ao romance homónimo de Eça de Queirós. O aparecimento da Casa das Histórias, museu inaugurado em 2009 em Cascais, reflete, portanto, um gosto pela narrativa que encontra raízes na língua e na cultura de Portugal.
Na imagem, Anjo, 1998.
Cf. Pintora Paula Rego morreu aos 87 anos + Obituário no jornal The Guardian + Exposition "Les contes cruels de Paula Rego"