A entrada da Roménia na União Europeia, no dia 1 de Janeiro, está a catalisar as relações entre Portugal e aquele país. O interesse dos estudantes romenos pela língua portuguesa não pára de crescer, de mãos dadas com o forte aumento da presença de empresas portuguesas no mais oriental dos países latinos.
"Há muito trabalho a fazer, existe um interesse fantástico pela língua portuguesa", observa Patrícia Ferreira, a leitora de português no Instituto Camões de Bucareste. O Centro de Língua Portuguesa da Faculdade de Línguas e Literaturas Estrangeiras da Universidade de Bucareste conta actualmente com quatro professores e dois colaboradores para aproximadamente 300 estudantes matriculados.
Além do de Bucareste, existem centros nas universidades de Constança, junto ao Mar Negro, Cluj-Napoca, no Noroeste do país, e na vizinha Chisinau, a capital da República da Moldávia, cujo idioma oficial é também o romeno. Os mais precoces podem aprender português em vários liceus de Bucareste, entre os 9.º e 12.º anos. "No total, são quase 600 alunos espalhados por toda a Roménia", calcula Patrícia Ferreira, que exclui os alunos inscritos nas escolas privadas de línguas.
Diversas razões contribuem para esta adesão ao português. Além de o romeno ser também uma língua latina, há o factor exótico.
"Manifestam grande interesse por outra língua românica que não seja nem o espanhol, nem o italiano", explica Patrícia Ferreira. A este facto acresce o fascínio que muitos destes estudantes têm pelo Brasil e, em menor escala, por Portugal. "Somos um país de extremo, que ficava na outra ponta do Império Romano." No 3.º Encontro de Lusofalantes, realizado em Dezembro, o tema escolhido foi "O Papel da Tradução". Com a entrada da Roménia na União Europeia é de esperar um reforço da necessidade de tradução nas áreas não só culturais, mas sobretudo técnica e jurídica. Percebe-se que o crescente investimento português na Roménia ajuda a criar um novo mercado local para as centenas de estudantes da língua de Camões.
"A presença portuguesa na Roménia tem aumentado de forma sustentada desde há oito anos", recorda o embaixador Alexandre Vassalo. "Muitas empresas foram passando palavra umas às outras e hoje já podemos contar entre 180 e 200 companhias portuguesas a operar no país", estima o diplomata português.
"Existem mais empresas portuguesas na Roménia do que em todos os outros países do Centro e Leste da Europa", nota o embaixador, que justifica com "a simpatia do povo romeno", "o facto de a língua ser muito parecida com a nossa" e, mais importante, "as potencialidade do país".
A Roménia é um mercado de 22 milhões de habitantes, onde, segundo Alexandre Vassalo, "está quase tudo por fazer". Por outro lado, mantém índices de crescimento anual do PIB na casa dos oito por cento. Entusiasmada, a imprensa local chama-lhe agora "Tigre dos Balcãs".
Segundo o embaixador Alexandre Vassalo, a construção civil e obras públicas é de longe o sector mais fortemente representado, seguindo-se a área do biodiesel e energias renováveis.
Outros sectores têm recebido forte investimento português, tais como os têxteis, as fábricas de cablagem, os produtos de couro, o reordenamento do território, a indústria química e farmacêutica ou a cortiça e derivados, entre outros.
Empresas de construção civil e obras públicas, como a Soares da Costa, Monte Adriano, Mota-Engil ou Lena, estão já bem implantadas na Roménia, prevendo-se que o Grupo Millennium/BCP abra um novo banco de retalho no país ao longo de 2007.
Contudo, este é um país com grandes assimetrias. "Se for para o interior da Roménia, terá um choque", afirma Bruno Machado, director para a Roménia da Monte Adriano, uma empresa de construção civil e obras públicas sediada na Póvoa do Varzim. "As cidades têm dimensão, mas o mundo rural é muito pobre, vê-se pelas casas e pelas carroças", sublinha o gestor que aqui chegou em Janeiro de 2005.
"Existem vários sectores da economia onde falta a mão-de-obra especializada", sublinha Bruno Machado, muitos romenos emigraram para Espanha e Itália para desempenhar tarefas idênticas muito mais bem remuneradas", completa Bruno Machado.
A Monte Adriano chegou há dois anos à Roménia, após ter ganho um concurso para a renovação de estradas. Hoje está também presente no consórcio português que explorará energia biodiesel na Roménia. Conta com 25 por cento do capital, detido em 50 por cento pela Martinfer e outros 25 por cento pelo Finibanco. Numa primeira fase, revela Bruno Machado, o investimento rondará os 60 a 70 milhões de euros.
O investimento português tem por objectivo a produção e refinamento do óleo de colza e de girassol, a que se juntará "uma componente agrícola para a produção do óleo de colza". Numa segunda fase, os investidores querem chegar a uma área de exploração total de 50 mil hectares.
Em matéria de imigração, nota-se um claro desequilíbrio na balança. "Existem entre 60 a 80 mil romenos que se estima estarem a viver em Portugal, embora destes apenas 28 mil estejam legalizados", recorda o representante diplomático português. Alexandre Vassalo faz questão de juntar a este contingente cerca de 12 mil moldavos, igualmente falantes de romeno, e que residem oficialmente em Portugal.
De acordo com Alexandre Vassalo, "há actualmente duzentas pessoas portuguesas a viver na Roménia, a que se somam mais 20 estudantes do programa Erasmus".
O embaixador sublinha a grande expectativa que se vive hoje na Roménia: "acham que a partir do dia 1 de Janeiro tudo vai imediatamente mudar". Remata: "Estão como Portugal em meados dos anos 80. Entrámos em 1986 e aqueles dez anos que se seguiram após a adesão foram de prosperidade e crescimento."