O Campeonato Nacional da Língua Portuguesa, apresentado por Bárbara Guimarães, estava cheio de calinadas, denunciadas por participantes. Exemplo: o feminino de tecelão ser tecedora. É tecelã, como confirmou a linguista Regina Rocha. E a vencedora do concurso passou à final com uma resposta errada.
O jurista José Pedro Borges, um dos participantes no Campeonato Nacional da Língua Portuguesa, cuja final foi transmitida no sábado [28 de Abril de 2007], pela SIC, queixou-se ao “24 Horas” do «caos completo» que foi este evento apresentado por Bárbara Guimarães. Para o concorrente, o exemplo mais incrível aconteceu «na fase de qualificação, quando a Comissão Técnico-Científica considerou que o feminino de tecelão era tecedeira e tecedora e não tecelã».
O caso motivou «vários protestos enviados por “e-mail” para a Comissão Técnico-Científica do Campeonato».
A avaliar pelo parecer da linguista Regina Rocha, colaboradora do “24 Horas”, os protestos tinham razão de ser (ver a seguir, A professora é que sabe).
Mas houve mais exemplos, muitos deles apontados por ex-participantes e espectadores atentos do concurso no blogue.
Bárbara Guimarães fez a última pergunta a Maria José Santos, a dois minutos de esta ser proclamada «Campeã Nacional da Língua Portuguesa». «O que quer dizer a palavra inconsútil?», perguntou a apresentadora. As hipóteses eram: A. Sem costuras. B. Sem consolo. C. Sem consumo.
A concorrente respondeu, sem hesitar, «Sem consumo». Reclama José Pedro Borges ao “24 Horas” , indignado: «A resposta correcta era «sem costuras». E tem razão (ver a seguir, A professora é que sabe).
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«Levam muito a peito a língua»
O director do semanário "Expresso", jornal que foi um dos organizadores do Campeonato, com o "Jornal de Letras", a SIC e a SIC Notícias) desvalorizou as críticas dos participantes.
«A única queixa que me chegou, devido a um suposto erro, foi quanto ao feminino de tecelão. Eu próprio perguntei à Comissão Técnico-Científica e eles responderam que tecelã não estava correcto», afirmou Henrique Monteiro. «E não estava correcto, de acordo com o Grande Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, que era, no concurso, a obra de referência para avaliar a exactidão da grafia das palavras. A outra obra de referência era a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra».
A opinião dos especialistas da língua que faziam parte do júri não contava. «Admito que tenha havido algum erro em centenas de perguntas. Mas o que o blogue de protestos prova é que as pessoas levam muito a peito a língua portuguesa . Ao contrário da Matemática, a língua portuguesa não é uma ciência exacta», comentou Henrique Monteiro.
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A professora é que sabe
1) Foram apresentadas como opções para o feminino de tecelão as seguintes palavras: tecelona, tecelã, tecedeira e tecedora. E foram consideradas correctas duas: tecedeira e tecedora. Ora, das quatro palavras em causa, só a palavra tecelã é o feminino de tecelão (feminino gramatical regular). Existe a palavra tecedeira, mas é o feminino de tecedor. Quanto à palavra tecedora, é um feminino regular de tecedor.
2) O concurso considerou como incorrecta a frase «Ele é distraído, se não parvo», e como correcta «Ele é distraído, senão parvo». Mas a construção correcta é «Ele é distraído, se não parvo.» Neste caso, pretende dizer-se o seguinte: «Ele é distraído, quando não parvo» ou «Ele é distraído, se é que não é parvo».
3) Qual destas consoantes é sonora? F, T ou V? A resposta considerada certa, no concurso, foi F. Mas a consoante sonora é o V (constritiva fricativa sonora). O F é uma consoante constritiva fricativa surda. O T é uma consoante oclusiva surda.
3) Inconsútil significa «sem costura», «feito de uma só peça», «que não se pode fragmentar ou fraccionar», «sem falha», «sem fenda».
notícia publicada no diário português “24 Horas”, de 31 de Abril de 2007