É raro que uma palavra tenha apenas um sentido ou um significado. O que é frequente e, ao mesmo tempo, paradoxal é que os falantes empreguem sem problemas uma mesma unidade lexical em vários contextos e com vários significados, revelando uma propriedade linguística que se chama polissemia. E é aqui que começam alguns dos problemas identificados por Augusto Soares da Silva neste novo livro: o que distingue dois sentidos da mesma palavra? quando é que a diferença de sentidos permite falar de homonímia (mesma forma, mas sentido diferente entre palavras)? e qual é a relação entre sentidos?
Estas e outras perguntas prendem-se com o questionamento sobre a natureza do próprio sentido na linguagem. Trabalhando no âmbito da Linguística Cognitiva, Soares da Silva evidencia assim como hoje se reconhece a centralidade da polissemia nos estudos linguísticos, não só no plano do léxico, mas também nas perspectivas sintáctica, morfológica, pragmática e fonológica. Além disso, como diz o autor, a polissemia «torna-se uma oportunidade para (re)ligar a linguagem à cognição e à cultura […] e oferecer uma alternativa à abordagem “clássica”, isto é, em termos de “condições necessárias e suficientes” […]» (pág. 3). Trata-se, portanto, de uma obra que põe o leitor em contacto não só com desenvolvimentos recentes dos estudos cognitivos em linguística, mas também com a análise e problematização, no âmbito dessa abordagem, de aspectos do funcionamento polissémico de várias estruturas e categorias do português.
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