Crónica do jornalista Wilton Fonseca publicada no jornal i de 7-02-2013, a propósito de um “tropeção” (ministerial). Diz o autor: «Não vivemos nem somos reféns das audiências, mas ser visto e ser "ouvisto" pelos portugueses é também uma razão para justificar o investimento que os portugueses pagam [para o serviço público de audiovisual].»
Neologismos são palavras, frases ou expressões novas, ou às quais são atribuídos sentidos novos. Alguns ganham imediatamente um lugar na língua: quando preenchem uma necessidade ou encontram uma “janela de oportunidade” no vocabulário de todos os dias.
Foi o que poderia ter acontecido com o verbo “ouver”, criado num inspiradíssimo momento pelo ministro [português] Relvas, durante uma entrevista sobre o serviço público de televisão. Preenche todos os requisitos para ser um neologismo bem-sucedido, mas teve a infelicidade de chegar aos ouvidos dos portugueses (de ser visto e “ouvisto”) num momento em que o país estava mais atento a outros assuntos, como os porcos nas auto-estradas e a eterna crise no Sporting (foi antes da nomeação de um ex-gestor do BPN para administrar o dinheiro dos contribuintes). Por isso, “ouver” jaz no éter, flor esquecida à espera que a colham. Disse Relvas: «Não vivemos nem somos reféns das audiências, mas ser visto e ser "ouvisto" pelos portugueses é também uma razão para justificar o investimento que os portugueses pagam [para o serviço público de audiovisual].» Pouco importa o significado desta salsada. O que aqui interessa é o “ouver”.
O termo foi muito bem concebido por quem tem a seu cargo o audiovisual; soma as qualidades de “ver” com as virtudes de “ouvir”, daí a sua conjugação: eu "ouvo", nós "ouvamos", vós "ouvais", eles "ouvam", ele "ouveu", ela "ouverá", eu "ouveria". O particípio passado é aquele já enunciado pelo ministro: "ouvisto". Conforme foi visto e "ouvisto" na RTP.