No melhor pano cai a nódoa? A frase feita pode pecar por excesso de optimismo…
No estado da língua («que estamos com ela», diriam os angolanos ou os moçambicanos) o menos que se espera é assistir ao desastre ocorrido no Jornal da Noite da SIC, edição de 23 de Fevereiro p. p. Do sinistro resultou um morto e dois feridos. Mas já lá iremos.
Extensíssimo, como sempre; alinhamento e desalinhamento em alegre cacofonia temática, linha dramática oscilante, o apresentador lá ia debitando dizeres e imagens, comeres visuais e gozos oscilantes quando, inopinadamente, surge um tema ligado à agricultura. Como se essa realidade ainda existisse e a encenação obrigava, adivinha-se o actor convidado: o ministro Jaime Silva.
Há muito em rota de colisão com as matérias da sua pasta, Jaime Silva, ministro da Agricultura, representou o seu monólogo, suicidando-se como locutor ao mesmo tempo que atropelava mortalmente dois inocentes verbos – julgo que ainda se podem designar assim – que pastavam em sossego no verde prado das conjugações possíveis. De sua graça, os verbos vir e poder.
Afoito na conjugação do problema em causa – não se lembra aqui se relacionado com a transformação dos tomates ou alguma quota de produção periclitante – prestou-se o ministro a declarar que «logo que vênhamos» a «tal e coisa» e «póssamos» revertê-la, talvez a estado alquímico, era certo e sabido que a resolução estaria em curso.
No uso da língua, como em tudo, cada um pode o que pode e vem ao que vem. Conjugar e pronunciar conjuntivos, como perceber conjunturas ou elaborar conjecturas, não é tarefa para todos. Ele há pronúncias. E de alto gabarito. Que medram em sequeiro e acinzentam a radiosa primavera autónoma das estradas a que se referia Cesariny.