«Irrevogável», como regista qualquer dicionário, tem o mesmo sentido de «inabalável» ou «definitivo». Ou seja, o contrário do que aconteceu com o assim autoqualificado pedido de demissão do ministro português Paulo Portas. É o que se assinala nesta crónica da jornalista Rita Pimenta, no jornal "Público" de 7/07/2013.
Irrevogável é algo «que não pode ser alterado, que não muda e volta atrás», diz o dicionário. Mas isso é porque não conhece Paulo Portas, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros [português] que se demite à terça-feira [2/07/2013] (com um pedido «irrevogável» e obedecendo à sua consciência), renegoceia à quarta e quinta e se readmite certamente num outro dia qualquer. «Irrevogável», mas só um bocadinho.
Também o presidente da mesa do congresso do CDS-PP usou aquela palavra para se referir à decisão do líder do seu partido: «Luís Queiró reiterou que essa decisão tem uma “natureza irrevogável”.» Sinónimos: «definitivo», «inabalável», «irreversível». Tal qual.
O dicionário exemplifica com esta frase: «O curso irrevogável dos acontecimentos.» E os acontecimentos foram: demissão do ministro das Finanças [português], Vítor Gaspar, e sua substituição pela ex-secretária de Estado Maria de Luís Albuquerque. Nome que desagradou a Paulo Portas, que preferia Paulo Macedo. Pediu então a demissão a Pedro Passos Coelho, que não lha deu. «São conhecidas as diferenças políticas que tive com o ministro das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e económico diferente. A escolha feita pelo primeiro-ministro teria, por isso, de ser «especialmente cuidadosa e consensual», justificou no comunicado de demissão.
Já agora, demissão significa «acto ou efeito de deixar voluntariamente um emprego, cargo ou dignidade» e também «fuga ao cumprimento dos deveres», «desistência», «renúncia». Tal qual.