É lamentável que um catedrático de Direito seja citado na imprensa por ter conjugado o verbo intervir como se fosse /interver/, mas compreende-se: o ensino em Portugal está como está, e a escrita das leis é o que se pode ver no «Diário da República».
Mais decepcionante, no entanto, é que isso também aconteça num jornal desportivo que Carlos Pinhão e outros jornalistas da «velha guarda» transformaram em referência de bem escrever segundo a «norma» portuguesa. Muita gente ganhou hábitos de leitura com esse jornal. Outros, embora não gostassem de futebol, acostumaram-se a comprá-lo só pelo prazer de ler certas prosas. Referimo-nos a «A Bola», cuja cuidadosa revisão, na edição de 23 de Março, deixou passar um «Manuel José /interviu/» (em vez de interveio).
Proveniente do latim intervenire (inter, entre + venire, vir), intervir é um verbo «amaldiçoado». Jornalistas, mestres de Direito, políticos insistem em conjugá-lo ora como intervir, ora como /interver/, ora como coisa nenhuma.
No presente do indicativo, dizem bem: intervenho, intervéns, intervém, etc. Não dizem /intervejo/, /intervês/ e /intervê/. Mas, no pretérito, saltam para o verbo ver: /intervi/, /interviste/, interviu!, em vez de intervim, intervieste, interveio. No particípio passado, então, não é verbo ver nem verbo vir, não é verbo nenhum: é /intervido/ (quando deveriam dizer ou escrever intervindo - como no particípio presente).
Uma coisa são as transformações linguísticas, o «erro» de hoje ser a «norma» de amanhã. Outra coisa, bem diferente, é já não ensinarem as conjugações na escola.