A escrita descuidada nos espaços de conversa informal das redes sociais, como o Facebook, abordada nesta crónica do jornalista e professor Edno Pimentel, na edição do semanário angolano "Nova Gazeta" de 27 de março de 2014.
Claro que o mais importante é que a nossa mensagem seja compreendida por quem nos ouve. Mas se ela for bem transmitida, ou seja, se na escrita usarmos os códigos certos e escrevermos, por exemplo, ‘casa’ em vez de ‘caza’, ou ‘sal’ em vez de ‘çal’, será, sem dúvida, bem melhor.
E isso vem a propósito das mensagens que trocava com um amigo no Facebook, com quem eu já tinha conversado sobre a forma de estar nas redes sociais, sobretudo, o modo como escrevemos as nossas mensagens.
«Mas tu sabes que errar é humano, não sabes?», aproveita-se mais uma vez e justifica o erro que comete. «É que, assim, não se demora a escrever a mensagem e os meus amigos não ficam muito tempo à espera, percebes?», insiste.
«É óbvio que errar é humano, meu caro. Mas sempre que puderes evitar os erros, melhor será para ti», alerta um outro amigo virtual durante o chat. «E até sabes que és uma pessoa que na qual tenho muita consideração».
Os amigos, mais uma vez, compreendem o que pretendemos dizer, mas a língua que falamos é maravilhosa, cheia de encantos, dúctil e com muitas opções para se expressar nela de forma simples e bonita, apesar das rasteiras que, às vezes, ela nos dá.
Nós temos consideração por alguém, isto é, os nossos amigos são pessoas por quem ou pelas quais temos consideração. Não são lugares aonde vamos, ou nos quais nos encontramos para beber uns copinhos. Não podemos, aliás, não devemos fazer confusão com elas e dizer, só para dar um exemplo, «que és uma pessoa que na qual tenho muita consideração». Não está bem.
Quando usamos ‘que’ (pronome relativo) não podemos usar, em seguida, no/na/pelo/pela + qual, por este ser um pronome relativo com o mesmo valor de ‘que’. Se ‘temos consideração por alguém’ e falamos de/sobre alguém/algo, podemos optar por:
«Aquela é a professora por quem/pela qual tenho muita consideração»; «Esta é a minha amiga de quem/sobre a qual te falei»; «Aquele é o lugar em que/no qual/onde me sinto melhor».
Outros textos de Edno Pimentel sobre o português de Angola
in semanário Nova Gazeta, de Luanda, publicado no dia 27 de março de 2014 na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.