Convenhamos que é, no mínimo, surpreendente um erro destes1 no anúncio de um colóquio pretensamente científico sobre a ortografia – e logo cometido pela instituição que gostaria de assumir o exigente papel de regulação da língua em Portugal que já teve... in illo tempore e quando, na então pujante Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, pontificavam vultos da grandeza de Gonçalves Viana, Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Epifânio da Silva Dias, Rebelo Gonçalves ou Lindley Cintra, por exemplo.
Ou, se calhar, nem é de admirar assim tanto – tantos são os desleixos de escrita e de falta de rigor no que se coloca na respetiva página na Internet, como os assinalados nas imagens ao lado2. Que tal um serviço de revisão minimamente competente?
1 «Bom senso» sempre se escreveu sem hífen – antes e depois do Acordo Ortográfico. Como, de resto, assim vem registado em qualquer dicionário ou vocabulário, dos mais antigos aos mais recentes, portugueses e brasileiros. A começar pelos editados sob a chancela da Academia das Ciências de Lisboa: o primeiro, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, de 2001, ainda antes da entrada em vigor das novas regras; e o segundo, o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, de 2012, já com elas contempladas. Contempladas e devidamente assumidas nos propósitos da publicação (retardada e, por sinal, muito aquém do que já fora anteriormente lançado em Portugal e no Brasil...): «Dá sequência às edições anteriores (1940, 1947 e 1970), promovendo o uso ortográfico proposto em 1990 pela Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras e os representantes dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa (Timor-Leste aderiu à CPLP, depois da independência, em 2002, e assinou o Acordo do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em 2004).» Mudam-se os tempos, e as pessoas, mudam-se as vontades: nem o AO é aplicado pela entidade promotora portuguesa, como, até, os seus atuais dirigentes organizam debates com os setores que mais extremadamente se lhe opõem no país. Escusavam era de atropelar a ortografia... que se mantém como dantes. E, já agora, decidam-se na opção: novembro, com a inicial minúscula, como foi grafado no cartaz, é conforme a atual reforma do português escrito...
2 São minudências, dir-se-á. Mas inaceitáveis, mesmo assim, porque reveladoras de menor rigor ortográfico; e não só. É o caso da obrigatoriedade do ponto abreviativo, também nos numerais. E alguém imagina anúncios em inglês nas páginas de uma academia brasileira, espanhola ou francesa, por exemplo?
N.E – Posteriormente à colocação em linda deste texto, a Academia das Ciências de Lisboa procedeu à alteração do que figurava antes no seu portal, «bom-senso» (com hífen), para «bom senso» (sem hífen).