É sabido que a especificidade de cada meio de comunicação condiciona a transmissão da mensagem - até para que não se perca a sua eficácia. E que, por via disso, se impõe uma tolerância no uso aprimorado da língua no que se refere à rádio e à televisão - só assim, aliás, é que os puristas da gramática ainda conseguirão premir o botão do "on"… Mas o mau português tem de ser banido dos audiovisuais (nos jornais o problema não é tão chocante). É que, de facto, são demasiados os pontapés no português. Tanto na programação como na informação.
Listar exemplos não caberia neste espaço. Por isso, fica apenas um, de há poucos dias. Seguindo a moda de legendar declarações feitas por telefone, a RTP-N escreveu "interviu" ao "traduzir" literalmente palavras do mediático juiz Rui Teixeira ao RCP. Claro que se deve lamentar que uma figura pública como esta – celebrizada pelo processo Casa Pia – cometa um erro de palmatória, mas a legendagem só veio amplificar o problema.
Convém que os jornalistas e os comunicadores (e, já agora, os seus interlocutores) tomem consciência de que são eles os formadores e educadores da sociedade mediática – nas questões da língua e não só… –, dada a perda gradual de influência da escola. Essa função tem de ser assumida com responsabilidade social. Nesse pressuposto, faz bem a Rádio Renascença quando desafia os ouvintes a resolverem dúvidas de português. Lança uma questão em antena, recebe algumas respostas e, algum tempo depois, a linguista Edite Estrela explica o como e o porquê. *
in "Público" do dia 27 de Dezembro de 2008, na rubrica "Visto/Ouvido" -
Alexandre Praça, jornalista português