Três exemplos da confusão no emprego de duas conjunções coordenativas de sentido distinto, colhidos em jornais portugueses. Crónica do autor publicada no jornal "i" de 31 de julho de 2014.
Para alguns jornalistas é um problema escolher entre um “e” e um “ou”, as inesquecíveis conjunções aditivas e alternativas que surgiam nas primeiras páginas das gramáticas básicas.
Aqui ficam três exemplos, retirados de dois jornais de referência – o “Diário de Notícias” e o “Público”. No DN escreveu-se: «Foi também um privilégio voltar a ver Messi, Eto’o, Davids, Griely ou Gudjohsen a jogarem de novo juntos.» Esqueçamos o “voltar a ver a jogar de novo” e perguntemos: quem viu Griely não viu Gudjohsen? Um excluiu o outro? Se a resposta é “não”, que se escreva um “e”. Também no DN: «Algumas das mais emblemáticas figuras do FC Porto, desde Vitor Baía a Jorge Costa, passando por […] Sérgio Conceição ou Ricardo Carvalho». Por que razão o “ou”? Um excluiu o outro?
No “Público”, a propósito do abaixo-assinado de um grupo de intelectuais contra a vergonhosa adesão da Guiné Equatorial à CPLP: «Entre (os signatários figuram) Chico Buarque, Ivan Lins, […] Manuel Carvalho da Silva ou Marina Costa Lobo.» Carvalho da Silva excluiu Costa Lobo? Se a resposta é “não”, que se dê a palavra à mais simples de todas as conjunções, o “e”.
As gramáticas lembravam que os conectores ou conjunções coordenativas compreendiam três tipos: as conjunções aditivas (“e” e “nem”), as alternativas (“ou”) e as adversativas (“mas”, “porém”, “senão”...). Muito fácil. Os problemas surgiam no capítulo seguinte, dedicado às subordinadas (subordinativas). Muita gente interrompeu os estudos antes de lá chegar.