Quando, na oralidade, exageradamente se pronunciam determinados sons, chamamos a isso um preciosismo – uma forma exagerada de pronúncia. Mais ou menos tolerados, tais preciosismos chegam a entrar no domínio do erro e, nalguns casos, do ridículo.
Já sobejas vezes neste sítio se tem chamado a atenção para a pronúncia de determinadas palavras, como ministro ou vizinho, em que o uso dita a dissimilação dos dois ii, fazendo que o primeiro soe como e mudo (/menistro/, /vezinho/), tornando-se forçada a pronúncia marcada de ambos os ii.
Muito na moda, actualmente, e também já referido pelo Ciberdúvidas, é o e em início de palavra soar como e fechado (/ê/), em vez de i, como sempre se usou deste lado do Atlântico. Cada vez com mais frequência se ouve pronunciar "/êvocação/", "/êxacto/", "/êlectrónica/", entre muitos outros exemplos, num absurdo desrespeito pela pronúncia de Portugal.
Noutros casos, o perfeccionismo raia pelo ridículo, quando se ouve já, em determinadas sílabas, o o com valor de u passar a ser lido como /ô/: "/nôventa/", "/nôstálgico/", "/sôviético/", etc., etc. É que dizer bem não é propriamente soletrar…
É com este falar afectado, e até caricato, que alguns senhores da rádio pública portuguesa não deixam de nos surpreender (e incomodar) no dia-a-dia, em nome de um perfeccionismo que não é certamente bom conselheiro.