A Êispu 98 está a ser um êxito: os políticos e os jornalistas da televisão portuguesa gostam tanto dela, que já encontraram formas personalizadas de lhe pronunciar a abreviatura. Cada um tem a dele! No jornal das 22 horas da TV2, na quinta-feira, a jornalista Isabel Silva Costa abriu bem o «concurso», com Êis... mas concluiu-o mal, com pò. A montagem poupou o ministro António Vitorino e o comissário Torres Campos, citando-os em passagens que os não expunham à pronúncia da funesta abreviatura. Esta sorte não teve o presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, que se saiu com um sonoro «Ecs-pô». Compreende-se. Detesta de tal modo a Êispu, que a soletra mal de propósito. O dr. Pacheco Pereira já é um «caso» de hesitação: tem de decidir entre «Êispô» e «Êispò». Talvez o melhor ainda seja escolher Êispu (como livru, filhu), pronúncia recomendada pela Sociedade da Língua Portuguesa.
Outro «caso» de hesitação - precisamente, onde menos se espera - é o de Sena Santos, na Radiodifusão Portuguesa, Antena 1: só uma palavra o faz interromper o ritmo alucinante com que nos dá notícias: «Ê...êis...pe». Está no bom caminho. Com algum treino, vai lá. Só precisa de se lembrar de exposição, quando precisar de pronunciar metade da palavra. Ao pronunciar exposição, ninguém diz «ecspò(...), pois não?
Voltando ao jornal da TV2, deve-se mencionar a agressão a Raul Capela, novo administrador da Expo 98, atingido com um acento agudíssimo no u. O legendista ainda não devia ter nascido quando, há quase 40 anos, precisamente na RTP, se iniciaram as «Charlas Linguísticas» com a seguinte afirmação: «Chamo-me Raul Machado, e Raul não leva acento.» Mais: um representante da Juventude Socialista, no mesmo jornal, ao defender uma posição sobre o aborto, saiu-se com um «poderão haver» que caracteriza bem a gramática da nossa «classe» política.
Enfim, «Viva a Liberdade!». António Barreto, na SIC, prendou-nos com um «dezenas de milhar». Parafraseando Rodrigo de Sá Nogueira («Dicionário de Dificuldades e Erros de Linguagem», Clássica Editora, Lisboa, 1969), gostaríamos de saber se o dr. Barreto também diz «uma dúzia de ovo».