«Pelos vistos, uns senhores em Lisboa decidiram-se por, na secretaria, tentarem condicionar e conseguir aquilo que, de outra forma, no caso concreto, de Braga, nunca conseguiram eleitoralmente. É uma enormidade, para não adjectivar de outra forma».
Três erros nesta frase, dita1 pelo líder da distrital do CDS-PP, Nuno Melo, a propósito da limitação a três mandatos consecutivos neste partido português:
a. A forma verbal «decidir-se a» (que significa «resolver-se a») pede um infinitivo impessoal: «Decidiram-se a tentar condicionar». Sempre que uma preposição pertence à regência do verbo, o sujeito é o mesmo que o infinitivo que se segue, ficando este, portanto, invariável: eles decidiram-se a comprar a casa, eles decidiram-se a viajar de avião. No caso, é mesmo dispensável a pronominalização do verbo e consequente uso da preposição: eles decidiram tentar condicionar, eles decidiram comprar a casa, etc.
b. A construção utilizada – «decidir-se por», que significa «escolher» – pede normalmente um substantivo: o juiz decidiu-se pela suspensão da pena, eles decidiram-se por uma tentativa de condicionar... Se se utilizar um infinitivo, a regra mantém-se: infinitivo impessoal (decidiram-se por manter a sentença, decidiram-se por tentar condicionar).
c. Quanto ao termo «adjectivar», ele pode ser usado no sentido de qualificar, caracterizar, e, assim, em sentido lato, ser aceite na frase «É uma enormidade, para não adjectivar de outra forma». Mas, em rigor, o termo «adjectivar» deveria ser substituído por outro (classificar, por exemplo), já que a palavra «enormidade»é um substantivo abstracto, e não um adjectivo.
1 “Telejornal” da RTP de 8 de Julho p.p.