«Há, naturalmente, ofertas para todos os bolsos (ô) e para todos os gostos»1.
Em primeiro lugar, a pronúncia: a sílaba tónica do plural de bolso é aberta (bolsos – ó). Depois, a palavra bolso neste contexto não é sinónima de bolsa. No caso, a expressão adequada seria «há ofertas para todas as bolsas». As bolsas é que contêm o dinheiro; os bolsos podem tê-lo ou não.
[Nas palavras cuja sílaba tónica tem como núcleo a vogal o fechada /ô/, o plural é umas vezes em /ô/, outras em /ó/.
Defende o Dr. Neves Henriques que o plural de bolso deverá ter a vogal tónica fechada /bolsos/, porque, geralmente, o plural é em /ô/, quando no singular há a vogal /ô/ no masculino e no feminino. Temos, então, tolo /ô/, tola /ô/, tolos /ô/, tolas /ô/. E do mesmo modo todo e toda /ô/, todos e todas /ô/, lobo e loba /ô/, lobos e lobas /ô/, roto e rota /ô/, e rotas /ô/. Sendo assim, a pronúncia aconselhável seria bolsos /ô/, porque temos no singular /bôlso/ e /bôlsa/.
Concordando embora com a tentativa de formulação desta regra, defendo a pronúncia de bolsos com /ó/, própria da maior parte dos falantes em Portugal. Defendo estar aí presente um processo de dissimilação. O plural “sos” – três sons fechados – leva à necessidade de abertura da vogal tónica /ó/, algo que não é necessário no feminino, por ter o final aberto com a vogal “a”.
Corroborando esta perspectiva, podemos encontrar outras palavras que têm no singular uma forma feminina e uma masculina com a vogal tónica fechada e cujo plural no masculino tem a vogal aberta: folho e folha /ô/, folhos /ó/ e folhas /ô/; poço e poça /ô/, poços /ó/ e poças /ô/ ou poças /ó/.]
1 “Bom dia, Portugal”, RTP-1, 18 de Maio p.p.