No "Jornal da Noite" da SIC de 16 de Março de 2007 foi noticiado que «o Governo português vai investir nove milhões de euros na promoção e realização de eventos no Algarve» e que, «para vender melhor a região, o Governo até aprova, e paga, uma mudança de nome de português para qualquer coisa tipo inglês: acrescenta-se um "l" à palavra Algarve e passa-se a pronunciar All… garve». O ministro Manuel Pinho traduziu: «All em inglês quer dizer tudo, e, portanto, a ideia é juntar a marca tradicional do Algarve, que continua a ser respeitada, com esta ideia de tudo.»
O repórter perguntou, então, ao ministro: «Como português, não o chateia ter um estrangeirismo no nome?»
Resposta do ministro: «Absolutamente nada, porque o Turismo olha para os nacionais, mas, como o senhor sabe, o Turismo é essencialmente para os estrangeiros.»
Esta subserviência em relação ao idioma inglês chega a ser humilhante. É lamentável promover a adulteração de uma palavra portuguesa, não havendo razão nenhuma que o justifique. Além disso, o nome do Algarve é já há muito uma "marca" internacional. Algarve, Porto, Madeira, entre outros, são "marcas" portuguesas, nomes portugueses internacionalmente conhecidos há séculos. Estes nomes portugueses são conhecidos no mundo inteiro, naturalmente pronunciados em cada canto do mundo de acordo com o respectivo idioma, mas escritos sempre em português. Arriscamo-nos, sim, com essa nova "marca", a que haja nacionais e estrangeiros que comecem a pensar que existe um qualquer "Allgarve" em terras de Sua Majestade… E para aí queiram ir, nas tais férias que o ministro desejaria que passassem no Algarve…
A questão seria grave em relação a qualquer palavra portuguesa, mas assume uma gravidade particular por se tratar do nome de uma região portuguesa: é um caso de afronta à identidade nacional. A palavra Algarve existe há muitos séculos, sendo anterior à fundação da nacionalidade. Esta palavra é de origem árabe, com o significado de oeste, poente, ocidente: aos olhos dos Árabes que iniciaram a conquista da Península Ibérica por Gibraltar (em 711), o Algarve ficava a Oeste.
De referir, também, que as palavras acima assinaladas a cor amarela (com e chateia) deveriam ser substituídas por a e incomoda ou aborrece: o verbo juntar pede um complemento iniciado pela preposição a (juntar a marca à ideia… ou a ideia à marca) e o calão não é admissível num profissional da comunicação que se dirige a um ministro.
(Ver Abertura de 19-03-2007)
texto publicado no jornal "24 Horas" de 19 de Março de 2007, na coluna "Ai, esta língua traiçoeira!..."