Esta frase dá a cara a um texto publicitário que passa no canal televisivo AXN, em Portugal, a anunciar, presumo eu, um qualquer filme de terror. Não é preciso ser a Miss Marple para comprovar o duplo assassínio: o da personagem vítima do acto sanguinário, claro, mas também o da sintaxe estropiada…
O atropelo gramatical prende-se com a posição do pronome pessoal junto à forma verbal. Cada vez mais me confronto com este tipo de construção, já não só na escrita mas na própria oralidade. Como se o correcto fosse, sistematicamente, o pronome depois do verbo. Nada mais errado. É certo que, em português europeu, é de regra a ênclise* ao verbo em determinadas situações:
«Cortaram-no e ataram-lhe as tripas»…
Mas há muitas outras em que o preceito é a próclise**. Uma delas é, precisamente, depois do pronome alguém:
«Alguém o cortou e lhe atou as tripas?»
Não cabe no âmbito destas linhas a definição de regras a esse respeito, que o falante do português de Portugal tem, aliás, interiorizadas. Usa-as naturalmente. Tem por detrás a eufonia da língua, o uso oral e escrito de séculos… Só depois vêm as regras gramaticais, que também são importantes, sobretudo quando as outras falham.
Neste caso, na construção em apreço, tudo foi desrespeitado: o uso, a eufonia, as regras… Um atentado grave à língua portuguesa, que quem faz publicidade, quem escreve para o grande público, nomeadamente para a televisão, não deveria cometer.
*Ênclise: o pronome pessoal átono forma um todo fonético com a palavra (verbo) que o precede.
**Próclise: o pronome pessoal átono forma um todo fonético com a palavra (verbo) que se lhe segue.