Os números mais recentes sobre o interesse e a expansão da língua portuguesa pelo mundo fora, da tradução à aprendizagem e à Internet, neste artigo publicado no semanário "Expresso" de 14 de julho, assinado pela jornalista Alexandra Carita.
«O português já é uma língua internacional.» A resposta é unânime e perentória. Comum a linguistas, escritores, investigadores e responsáveis pelos vários organismos que a promovem. Os números falam por si. Com mais de 250 milhões de falantes (o número é superior ao de habitantes), o português é a 5.ª língua mais falada no mundo, a 3.ª língua europeia mais falada – a seguir ao inglês e ao castelhano – e a mais falada no hemisfério sul. É ainda língua oficial e de trabalho de mais de 20 organizações mundiais, as principais e de maior referência.
Os últimos dados relativos ao número de utilizadores da internet por língua são também pertinentes. O português é usado por mais de 80 milhões, acima do francês, com 59 milhões de utilizadores no ciberespaço e do alemão, com 72 milhões. E mantém a 5ª posição no ranking das línguas mais faladas, sendo aqui ultrapassada apenas pelo mandarim e pelo japonês, além do inglês e do castelhano.
«Trata-se de uma língua com grande tradição cultural. Isso faz com que a sua projeção no mundo seja tão significativa», explica o linguista João Malaca Casteleiro. «A promoção de toda a produção cultural falada em português, seja ela cinematográfica, literária, teatral, é um dos pilares da divulgação da língua», ajusta Vasco Graça Moura aludindo a uma política cultural consistente e sistemática.
Política cultural sólida
Há já passos dados nessa matéria, como «a criação da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas e o reinvestimento no apoio à tradução e divulgação de autores portugueses"» como assinala o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, mas o caminho para a consolidação de uma política que potencie o crescimento da língua a nível internacional tem ainda muitos quilómetros a percorrer. A estratégia e atividades definidas no Plano de Ação de Brasília para a Promoção, a Difusão e a Projeção da Língua Portuguesa, documento criado em março de 2010 e que em outubro será reavaliado em Lisboa, são as linhas mestras dessa política da língua. As várias iniciativas levadas a cabo pelos países da Lusofonia que assinam o Plano já fizeram crescer o número de falantes do português, que também é aumentado pelo crescimento demográfico dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Portugal e os outros
E aqui não pode ser descurado o papel desempenhado por países como o Brasil ou Angola e Moçambique. «O Brasil é hoje uma grande potência tanto do ponto de vista económico como cultural e o português ganha com isso uma dimensão internacional muito diferente. Sem ele essa dimensão seria muito mais modesta. O mesmo se aplica à pujança de Angola e mesmo de Moçambique. O que implica uma política da língua comum», diz Malaca Casteleiro. «A nível global não podemos esquecer essa contribuição, nem pensar que esses países estão menos apetrechados do que nós para desenvolver uma política da língua», continua Vasco Graça Moura. O Estado português não está alheio a essa realidade: «Quanto mais estreita for a ligação entre os nossos países e mais profícua for a relação estabelecida entre todos, mais visíveis serão os resultados alcançados», afirma Francisco José Viegas.
Ensino no estrangeiro
E é no domínio do ensino do português no estrangeiro que mais resultados se tem obtido. O último Relatório de Atividades do Instituto Camões dá conta de um aumento do número de alunos na ordem dos cinco mil, acompanhado pelo crescimento da procura na áreas da formação de docentes, tradutores e intérpretes e de cátedras no campo da investigação. Enquanto língua estrangeira prioritária, o português é já procurado em países como o Senegal, a Namíbia ou a África do Sul, no continente africano, países como a Argentina, o Uruguai, a Colômbia (em 2013, Portugal será o país tema da Feira Internacional do Livro de Bogotá, uma das maiores do mundo) o México e a Venezuela, na América do Sul. Na Ásia, é extraordinário o desenvolvimento do ensino do português na China (estudado em 25 universidades, 16 das quais com cursos de licenciatura), no Japão, na Coreia do Sul e no Vietname.
Acordo Ortográfico
Se o entendimento do Governo é o de «considerar que o Acordo Ortográfico irá facilitar o conhecimento e a divulgação do português» – opinião partilhada por linguistas a partir do argumento de que uma ortografia unificada facilita o uso da língua –, o de muitos escritores e especialistas do português é o contrário. «O AO só virá deteriorar a língua, cria o risco de corromper a sua fonética e constitui uma antipolítica da língua», sintetiza Vasco Graça Moura. Mas as consequências da entrada em vigor do AO, prevista para 2015, não são aferíveis. No plano futuro, o maior trunfo do português é o seu peso económico. Segundo um estudo da ES Research divulgado em março, a língua portuguesa vale 4,6% do PIB mundial (€1,857 mil milhões), sendo responsável por 2% do comércio internacional mundial: €441,9 mil milhões.
in semanário "Expresso” de 14 de julho de 2012