Falado actualmente por cerca de 200 milhões de pessoas, em todo o mundo, o português detém incontornável importância cultural e económica. Segunda das línguas latinas, apenas suplantada em número pelo castelhano, é a sexta mais falada do mundo. Tal peso linguístico, dividido por uma pluralidade de geografias e culturas, cria, naturalmente, grande riqueza vocabular.
Enquanto professoras de português como língua estrangeira, desde há muito nos havíamos confrontado com inúmeras perguntas relativas às diferenças da mesma, nos diversos países que a usam. Sabíamos que as havia. Mas onde e quais? Do Brasil, as novelas, a imprensa, as traduções, a B.D. já nos tinham acostumado a conviver com algumas variantes. Então e os PALOP? E Portugal, visto pelos outros? De facto, afirmar a absoluta equivalência de um termo ou expressão para tão vasta comunidade de falantes parecia-nos problemático. Não no falar erudito, igual em todo o lado. Mas no pulsar quotidiano da língua, onde mais se imiscuem as especificidades de cada terra, dificultando a vida ao alienígena aí precisamente onde a sua sobrevivência toma foros de urgência.
Exagero? Disparate? Tempo perdido? Bom, se tem gosto em levar uma vida de surpresas. Assim, não se admire um português se, chegando a terras de Vera Cruz e pedindo um pequeno-almoço, o seu interlocutor brasileiro desespere de tentar perceber (ou entender) que raio de refeição deseja. Convirá mais dizer, desde logo, que gostaria de tomar o seu café da manhã, e verá que tudo corre sobre rodas.
Do mesmo modo, o brasileiro que desembarque em Portugal não se deverá espantar se, pedindo a informação sobre onde encontrar um banheiro, lhe indicarem qualquer praia vigiada. Não que ele tenha de ir atá à costa para tratar das suas abluções ou necessidades fisiológicas. Mas será mais facilmente entendido se disser procurar uma casa-de-banho.
As diferenças não se esgotam aí. No meio da confusão geral que pode nascer numa conversa inocente, se um angolano falar em maka não significa isso que alguém já tenha ido de charola para o hospital. Apenas que, na barafunda, toda a gente desconsegue de se fazer entender. Não nos vamos alongar em mais exemplificações. Parece-nos bastante claro que, mesmo tratando-se de uma única língua, tal como existem regionalismos, existam diferenças de país para país.
O presente trabalho é destinado a todos: falantes naturais da língua e estrangeiros que circulem entre todos esses países e pretendam comunicar, com clareza, no seio dessa diversidade. Resulta, então, de uma lista que fomos sujeitando a comparações (dada a inexistência de estudos do género) e discussões com naturais dos sete. Foi uma longa conversa de três anos, que nos presenteou com surpresas, cansaços, confirmações, e muito riso. Daí nasceu esta primeira aproximação às diferenças do português coloquial tal como é falado nos meios urbanos desses sete países que o tem como seu. Daí, pois: "7 vozes".
Imaginamos que alguns mais puristas irão argumentar serem estrangeiras muitas das palavras incluídas neste léxico. A esses não podemos deixar de lembrar que, sendo embora o português uma língua latina, ele cresceu na mestiçagem. A quem este argumento não parecer tolerável, agradecíamos, então, que nos enviasse um exemplo de uma qualquer frase portuguesa absolutamente isenta de infiltrações (ou inovações e enriquecimentos, conforme o ponto de vista) que séculos de convívio com outros povos lhe trouxeram. Entretanto, para todos, boas viagens (de autocarro, ônibus, machimbombo ou outros) com estas vozes, e um kandando maningue apertado.