O Largo da Independência [em Luanda] começou a receber os primeiros fãs a partir das seis horas. Era desde logo previsível que o cenário seria aquele: pais que levaram os filhos, namorados ciumentos agarrados às namoradas, meninas de ‘tchuna baby’, rapazes com calças ‘youki’, enfim… cada um à sua maneira. Tudo para comprar o CD e tirar fotos, diga-se de passagem, com um dos mais queridos grupos de musicais, os Lambas.
As opiniões divergem. Para uns, «os Lambas cantam bem, mas não são os melhores». Para outros, “o grupo só faz tanto sucesso por causa do Nagrelha”, o vocalista e líder desta banda de kuduro.
Entre os rivais deste género musical, e que não são poucos, todos querem ser os melhores, mas reconhecem, pelo menos, que o criador deste estilo é o ‘todo-poderoso’ e já reformado Tony Amado. Disso ninguém duvida, embora o Sebém, que nos anos 1990 lança o seu grande e (quase) único sucesso – "Felicidade" –, reivindicasse parte da autoria.
Mas hoje é impossível falar-se de kuduro sem os Lambas. Só por isso é que a Praça da Dipanda enche de multidões em busca de um CD autografado pelos ídolos, mesmo que depois não se compreenda o que aí está escrito, o mais importante é viver o grande momento. E eu não escondo o meu carinho por este grupo. Lá estive entre familiares dos cantores, entre fãs desesperados e meninas desmaiadas no ‘empurra-empurra’, e consegui o disco.
Já próximo dos kuduristas, uma fã não pôde esconder a voz trémula de tão emocionada que estava. Parecia a fã número um. «Tu és fantástico. Admiras-me muito», confessou a jovem ao ‘estado-maior’ do kuduro. «Tu também me admiras muito», retribuiu Nagrelha.
Eu até compreendo que falemos, às vezes, no calor da emoção, coisas sem pensar. O Nagrelha não conhece – ou, pelo menos, até aquele encontro – não conhecia a jovem. Era difícil, para não dizer impossível, que ele a admirasse. Não me parece certo que ela diga «tu admiras-me muito», porque não era esta a ideia que ela pretendia transmitir. Queria, sim, dizer «eu admiro-te muito». Era a jovem que sempre via o cantor na televisão, nos espectáculos e noutros eventos. Ela, por isso, admirava-o, e não o contrário.
No calor das vendas, com bolso cheio e mãos cansadas de muito autografar, Nagrelha deixou-se influenciar e disse: «Tu também me admiras muito», quando, por gentileza, deveria ter dito «eu também te admiro muito».