Os equívocos com a letra x podem ser verdadeiramente tóxicos, como demonstra Edno Pimentel nesta crónica publicada na coluna "Professor Ferrão", do semanário angolano Nova Gazeta, em 7/11/2013.
Recentemente várias escolas públicas e privadas, em Luanda e não só, voltaram a registar casos de desmaio. É uma situação que começou há mais de dois anos e, até ao momento, nada foi esclarecido.
São muitas as versões à volta dos desfalecimentos dos meninos. Alguns analistas chegam mesmo a acusar as famílias, pais e encarregados de educação das meninas, que geralmente são as mais afectadas, de «não fazerem as refeições em condições ou de não terem uma única sanduíche durante o dia todo».
Outros, menos agressivos, acreditam tratar-se de alguma «substância "tóchica"» ou produto de limpeza, algum detergente como a lixívia ou creolina que está na base dos desmaios.
Alguns responsáveis apontam para a necessidade de se determinar e esclarecer se são mesmo casos de “intochicação” ou não, porque «na rua caem todos os dias cem pessoas».
«É a tal psicose, de tudo que agora desmaia é “intochicação”, sugere um responsável.
Não é bem assim. Dado certo é que ocorreram desmaios. Então não se pode acusar as pessoas de serem psicóticas. Se fosse só em Luanda, a causa seria, provavelmente, mais facilmente determinada. Mas não é um caso só da capital. Em Caxito /ch/, por exemplo /z/, embora numa escala muito pequena, também se falou de pessoas que desmaiaram por intoxicação /ks/.
Por que será que há tanta gente a ser "intochicada"? Será por causa da lixívia? Não pode ser, porque têm origens diferentes. Lixívia /ch/ provém do latim e tóxico /ks/ do grego (toxikós).
Pode sim ter algum fundamento etimológico. Daí que todos os x dos derivados de tóxico devam também ser pronunciados com o som /ks/: intoxicar /ks/, intoxicação /ks/, intoxicado /ks/. De igual modo, pronunciamos tórax /ks/ (do grego thórax) ou córtex /ks/.
Em caso de desmaio, é sempre aconselhável consultar um médico. Não devemos por iniciativa própria tomar comprimidos ou xarope /ch/ (do árabe xaráb). A toxicidade pode ser maior.
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, publicado em 7 de novembro de 2013 na coluna do autor, "Professor Ferrão". Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.