«A palavra previsão utilizada na economia é, aliás, digna de análise. Prever é ver antes, coisa que (salvo em casos de bruxaria) se realiza pelo método científico: certos fenómenos quando ocorrem em determinadas condições ou ambientes têm consequências que se podem antever. Os economistas e as suas instituições podiam preferir outras palavras: «estimativa», por exemplo; ou «projeção»; ou, para serem totalmente honestos, apenas «palpite».[…] Se a palavra fosse palpites, talvez fôssemos mais prudentes.». Excertos da reflexão crítica do jornalista Henrique Monteiro publicada no semanário “Expresso” de 24 de novembro de 2012.
Toda a gente sabe que as previsões feitas nos últimos anos falharam totalmente. E as feitas por este Governo [português] falharam colossalmente. Também falham as previsões do FMI, do BCE, da Comissão, enfim, de quase toda a gente.
A palavra previsão utilizada na economia é, aliás, digna de análise. Prever é ver antes, coisa que (salvo em casos de bruxaria) se realiza pelo método científico: certos fenómenos quando ocorrem em determinadas condições ou ambientes têm consequências que se podem antever.
Os economistas e as suas instituições podiam preferir outras palavras: «estimativa», por exemplo; ou «projeção»; ou, para serem totalmente honestos, apenas «palpite».
Mas o certo é que muitas palavras adequadas às ciências exatas usam-se nas ciências sociais. E isso tem-nos custado caro. Por exemplo, as célebres Scut e muitas outras artimanhas financeiras pagavam-se a si próprias... de acordo com as previsões de então. O programa de ajustamento previa o crescimento em 2012; depois em 2013; agora em 2014...
A maioria das decisões são tomadas com base no que se prevê vir a acontecer no futuro. E o que se prevê é sempre muito melhor do que a realidade do momento. As Scut haveriam de desenvolver o país; o Magalhães haveria de ser um marco na educação; a austeridade haveria de salvar o país já em 2013; o IVA a 23% haveria de trazer mais dinheiro para os cofres do Estado. Os incrédulos foram soterrados em mapas cheios de previsões.
Se a palavra fosse palpites, talvez fôssemos mais prudentes. Se Gaspar referisse palpites, em vez de previsões, também compreenderíamos que a brutalidade que se abate sobre a economia e sobre os contribuintes [portugueses] tem por base a convicção de uma hipótese. Nada mais! E isso conduziria à questão: porque fazemos este caminho de acordo com um palpite futuro e não acudindo ao que vemos?
E por aqui se vê o valor que pode ter uma simples palavra.
In semanário “Expresso” de 24 de novembro de 2012