Muito comentado, surge finalmente o “grande” Caldas Aulete (prometido pela Nova Fronteira, desde 2005), agora da Lexikon Editora Digital. Para quem não acompanha o interessante mercado lexicográfico, a língua portuguesa teve (só no Brasil) o Aurélio, em 1975, o Michaelis modernizado, em 1988, o Houaiss, em 2001, o DUP, em 2002, e agora o AD (?), isto para falar apenas dos grandes. Nunca um produto literário tão específico sofreu tanta concorrência no mercado editorial brasileiro. Antes de comentar o mais recente peso-pesado, vamos entender porque a obra da nova Lexikon tem esse nome.
Os dicionários monolíngües costumam se chamar «(novo) (moderno) (grande)» - normalmente, apenas um desses adjetivos é usado, mas o monumental “Laudelino Freire” chamou-se «grande e novíssimo (1939) - dicionário (contemporâneo, usual), mais o nome do autor ou da editora, da língua tal...», etc.
Ao que nos acostumamos chamar de Caldas Aulete (sobrenome do famoso lexicógrafo português, falecido após completar o plano da obra e a letra A) foi, certamente, o melhor dicionário da língua portuguesa editado no Brasil, depois de quase oito décadas desde sua primeira edição em Portugal. Em 1958, a Editora Delta obteve os direitos de publicação, atualizou-o e aumentou-o, editando-o em 5 volumes com um total de mais de 5500 páginas (1.ª edição brasileira). Após reduções gráficas, mas sem perda de substância, teve várias reimpressões e uma última edição em 1987. Quem gostava de dicionário ou quem precisava do maior e mais atualizado não deixou de tê-lo em sua estante. A NF, após perder o Aurélio para a Positivo, adquiriu seu banco de dados, da Delta, e lançou em 2004, com o míni, a nova coleção de excelentes dicionários com o nome de Caldas Aulete.
Mas é aquele mesmo Caldas Aulete que quem tem um não dispensa? Não exatamente, mas, certamente melhor e mais moderno; como eu disse, é um excelente dicionário (no padrão dos outros grandes e do editado pela Academia das Ciências de Lisboa, este surgido em 2001), mas, a não ser pelo uso do banco de palavras do antigo Caldas Aulete, é um outro dicionário, porque muitos verbetes foram inteiramente redescritos, reformatados e outros “re-” que se queira atribuir, gerando um produto que ainda contém os verbetes originais, embora cerca de 86 000 sejam atualizações daqueles, em amigável convivência, ou novos. Por que então o nome Caldas Aulete?
Basta voltar aos nomes dos dicionários, para completar a história do original Caldas Aulete, que se chamou “Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza” (assim mesmo, em 1881); ele foi e ainda é um ícone da lexicografia portuguesa e que valoriza o nome de qualquer obra recente que se lhe adquira ascendência, para ingressar em tão nobre estirpe. Não deixa, portanto, de se constituir em apelo significativo e diferenciado, reinventá-lo para disputar um mercado que ainda não alcançou a saturação. Bem-vindo às estantes, ou melhor (e aí é que está a grande diferença para os demais), bem-vindo às telas dos computadores, pois o novo Aulete Digital existirá virtualmente em um banco de dados em permanente atualização, acessado pela internet; por enquanto aberto a todo e qualquer curioso, necessitado de tirar dúvidas de português, lexicófilo, pesquisador ou lexicógrafo que queira avaliar o excelente trabalho desenvolvido pela Lexikon e sua competente equipe, sob a batuta de Paulo Geiger, reconhecidamente um expert do ramo. Está curioso? veja em http://www.auletedigital.com.br/aulete/, navegue à vontade e descubra o que ele tem de diferente, principalmente a “barrinha”.