As rivalidades entre mulheres no amor são o mote de mais uma crónica do Professor Ferrão, do jornal angolano Nova Gazeta. Edno Pimentel escreve sobre o uso do termo "inreval" em Angola para designar uma adversária ou uma concorrente na disputa do mesmo homem.
Não que eu goste de ouvir conversas alheias, mas, às vezes, as pessoas falam tão alto, que… pronto. Acabo ouvindo.
E foi o que aconteceu. Passeava por um desses shoppings com a minha nené ao colo. Enquanto esperava para ser atendido, porque estava cheio de fome, duas jovens senhoras conversavam. Dentre muitas coisas que ouvi, algo viria a dar corpo a esta aula.
Uma delas: «Eu não me importo. Ele, quando vai, demora, mas não esquece o caminho de casa.»
A outra: «O meu marido já sabe não pode ter outra. Não gosto de ter inreval.»
É compreensível a posição quer de uma quer de outra. Afinal, quem não quer um parceiro à inteira disposição, só para si e para mais ninguém? Mas, se analisarmos profundamente, as “outras” nem sempre têm culpa. Porque ser rival pode não ser opção de muitas, mas inreval… não sei. Até porque inreval não existe na língua portuguesa.
Na verdade, o que a moça não quer é ter uma rival. É normal que ela não queira disputar o seu marido com outras. Não se trata de ser má, mas do seguinte:
Rival é um adjectivo de dois géneros que significa “alguém que aspira àquilo a que outra pessoa aspira”. Por exemplo, o grande rival do Petro é o D’Agosto, porque ambos COMPETEM e CONCORREM para o mesmo fim: ser o número 1 do futebol em Angola.
A palavra rival provém do latim (rivāle) e significa “concorrente”, “competidor”, “adversário”, ou seja, “pessoa que disputa algo (ou alguém) com outra pessoa”.
Portanto, nas frases das amigas, o correcto seria dizer: «O meu marido não pode ter outra. Não gosto de ter rival» e «Elas dão-se muito bem. Nem parecem rivais».
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.