Nesta crónica na sua coluna Professor Ferrão, do jornal angolano Nova Gazeta, Edno Pimentel debruça-se sobre o uso em Angola de "circuncisado" e circuncidado, a par do termo kiungueiro.
Uma senhora defendia o filho de, mais ou menos, nove anos, quando este era insultado pelos amigos da mesma idade, presumo. Um deles disse: «Ché! Você ainda é ‘kiungueiro’?» Em defesa, respondeu: «Já me cortaram. Não sou mais kiungueiro!»
A mãe, vendo o filho irritado com as vaias dos amigos, confirma a posição do filho: «Ele já foi circuncisado, sim.»
As palavras ‘kiungueiro’ ou ‘kiunga’ são usadas, em Angola, para se referir àqueles que não tiveram o prepúcio “amputado”. É provável que tenha proveniência de uma língua de Angola.
Mas o que me chamou a atenção foi o vocábulo circuncisado usado pela mãe.
Segundo os registos em alguns dicionários, aparecem as formas circuncidado, circuncidar, circuncisão e circunciso. O verbo que corresponde a circuncisão (retirada cirúrgica do prepúcio, praticada por razões higiénicas e/ou religiosas) é circuncidar.
Circunciso é o adjectivo e o nome masculino, com o mesmo significado que circuncidado (esta é também a forma de particípio passado do verbo circuncidar): aquele que foi submetido a circuncisão. O verbo tem origem no latim e significa “cortar ao redor”, “cercear”, “decotar”, “amputar”, “aparar”, “podar”.
Com isso, a mãe do menino deveria correctamente ter dito: “Ele já foi circuncidado, sim.”
Os dicionários Houaiss da Língua Portuguesa, o da Língua Portuguesa Contemporânea e o Grande da Língua Portuguesa (Porto Editora) e o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (ciberduvidas.com) podem ajudá-lo a compreender melhor esta questão.
In jornal Nova Gazeta, de Luanda, na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.