"Gasosa", "pincho", "macaibo", "mbaia", "aguentos". Palavras e significados próprios dos usos do português de Angola, em mais uma crónica do autor, publicada no semanário "Nova Gazeta", de 13/02/2014.
É apenas mais uma tentativa. Há muito tempo, há mais de vinte anos, salvo seja, que surgiu e se instalou entre os angolanos. Não se trata de uma realidade exclusiva aos angolanos. Não! Vários povos, em todo o mundo, cada um à sua maneira, também o experimentam. Nós (cá) tratamos-lhe ‘gasosa’. Está presente nas escolas, no trânsito, nos hospitais, nas repartições públicas, em quase toda a parte.
Parece que no trânsito, a ‘gasosa’ pode ter os seus dias contados, tanto para os condutores, sobretudo os taxistas, como para os agentes reguladores. Os automobilistas que transgredirem devem ser multados e os polícias estão proibidos de a receber ou incitar, sob pena de serem expulsos.
Mas já ouvi, numa conversa de cuca, pincho e macaiabo, que isso «não vai dar certo». «São os próprios agentes que nos pedem a "gasosa" mesmo quando estamos bem encartados», diz um taxista.
«Só que agora, o chefe ficou mau. Por isso, é melhor começarmos a evitar as "mbaias"», aconselha um outro que se gabava ter «"aguentado" o dinheiro» de um polícia com quem tinha negociado uma multa resultante de uma "mbaia", uma manobra irregular e perigosa, na rua Friedrich Engels, na Mutamba.
«Você está a “aguentar” (=aldrabar) um polícia?», pergunta o cobrador. «Arranjar problema com polícia é pior do que ter com Deus. É que Deus ainda te perdoa», avisa. «Dá-lhe o dinheiro e mete-te no teu canto», reforça.
Estejamos atentos. Os ‘aguentos’ (= aldrabices) vão acabar mais cedo ou mais tarde. Com uma corporação mais disciplinada e disposta a combater a ‘gasosa’, os taxistas e os condutores, de uma maneira geral, terão de evitar as ‘mbaias’ (= manobras perigosas, fintas), porque o que se pretende, na verdade, é acabar com as transgressões rodoviárias, reduzir o número de acidentes nas estradas e potenciar os agentes de uma postura condizente ao trabalho que lhes é atribuído.
Não sei quantos angolanos andam a ‘aguentar’ os outros, mas conheço muita gente que depois de muitas ‘mbaias’ no trânsito, e não só, pensa que se pode resolver tudo com uma ‘gasosa’. O Governo tem de pôr o pé e regular essa situação.
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in semanário Nova Gazeta, de Luanda, publicado no dia 13 de fevereiro de 2014 na coluna do autor, Professor Ferrão. Manteve-se a grafia anterior ao Acordo Ortográfico, seguida ainda em Angola.