O caso da detenção, em Luanda, de 15 jovens ativistas políticos pelas autoridades angolanas em 20 de junho p.p. trouxe para as páginas dos jornais locais uma nova palavra, que é como eles são chamados. Mais propriamente trata-se uma redução vocabular. O problema é o acento gráfico, como anota o autor em mais uma crónica à volta dos usos do português em Angola, publicada no semanário Nova Gazeta, de 6/08/2015.
Há muito que se lhe diga a esse respeito, mas segundo algumas vozes ditas ‘avisadas’, os 15 jovens detidos tiveram este destino – a cadeia – por terem tentado criar alguma «desordem social». E até já ganharam o nome de ‘revú’, abreviação informal de revolucionário.
O que me preocupa aqui é o facto de eles serem tratados como ou de ‘revus’ e, mais grave ainda, por terem supostamente realizado uma manifestação "inlegal". É bastante natural que as pessoas se manifestem, e adoptem os nomes que quiserem, mas devem ter algum cuidado. Sobretudo quando o assunto é a língua oficial do país.
O facto de os jovens terem o nome que têm não significa que devem ser maltratados quando resolvem abreviar-lhes o nome por que são conhecidos. ´Revú’ não é a forma mais correcta de se escrever uma palavra aguda ou oxítona – aquelas em que o acento tónico recai sobre a última sílaba – quando terminada em ‘u’ ou ‘i’. Ou seja, palavras agudas terminadas nessas letras, ‘u’ e ‘i’, não levam o acento gráfico para marcar a sílaba tónica final. Bastava, no caso, escrever ‘revu’.
Ora, quem for analisar um caso como o dos revus deve ter ainda muito mais cuidado para que os jovens percebam, efectivamente, por que razão devem ou não manifestar-se, e em que condições, quando possível, devem fazê-lo. Não basta dizer que a manifestação é «inlegal» sem os devidos esclarecimentos. Aliás, é preciso que se lhe diga, a manifestação dos jovens não foi, do ponto de vista linguístico, «inlegal». Porquê? Porque, em português, o prefixo in- não é o mais adequado para ser usado com adjectivos que começam, por exemplo, com ‘r’ ou ‘l’, como é o caso de legal. Daí que a manifestação dos jovens não foi nem será algum dia inlegal. Poderá, sim, ter sido ilegal. Dizer que «a manifestação dos revús foi inlegal» não está correcto. Devemos escrever, segundo as normas linguísticas, «a manifestação dos revus foi ilegal».
Crónica da autoria de Edno Pimentel e publicada na coluna "Professor Ferrão" do jornal luandense "Nova Gazeta", em 6/08/2015. Manteve-se a ortografia conforme a norma ainda aplicada em Angola, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.