O (mau) uso dos pronomes relativos 'no qual', 'na qual', 'em que' e 'onde' é o tema desta crónica do autor, publicada no semanário angolano "Nova Gazeta", de 13/08/2015.
Não sei a quem atribuiria, se pudesse, de tantos desvios ou mesmo manobras perigosas que vejo e oiço todos os dias. Mas não é difícil ver quem é o principal responsável por tamanha desordem, no nosso caso, linguística.
Eu elegeria o próprio sistema que, amiúde, se vai fragilizando cada vez mais, sob os olhos impávidos de todos nós, os professores, de quem também somos frutos, alguns, muito mal amadurecidos.
Alguns académicos da nossa praça têm defendido o reforço das estruturas nas classes de base, sobretudo nas disciplinas de matemática e de português, por ser através dessas que mais facilmente se processa o raciocínio. Dominando a língua portuguesa, os alunos mais facilmente compreendem os teoremas matemáticos, encontram soluções para os mais complexos problemas, interpretam textos, analisam o mundo à sua volta, compreendem o mundo ao seu redor.
Mas... pronto. «Este é o problema que estamos com ele», disse um dia um cantor. «Nós somos mbora memo assim», disse um outro. Mas acredito que podemos, sim, ser melhores no que fazemos e, porque não, no modo como falamos.
«Na casa onde na qual eu estava», reflecte o que não se ensina nas nossas escolas e o que, talvez, não se aprende em casa. Na 12.ª classe, espera-se um perfil de saída razoavelmente bom: o aluno deve estar preparado para perceber com facilidade textos relativamente complexos, tem de ser capaz de construir frases lógicas e usar um vocabulário mais cuidado e, claro, tem de estar em condições de usar as técnicas básicas, só para minimizar, de pronominalização e os pronomes relativos.
Mas a culpa não é dos alunos que deviam saber que 'no qual', 'na qual', 'em que' e 'onde' podem ter valores significativos semelhantes. Podem, todos eles, ser usados nos mesmos contextos, desde que não seja ao mesmo tempo. Dentre os três, por exemplo, devemos usar apenas um porque todos querem dizer a mesma coisa.
Podemos dizer: «A casa onde eu estava»; «A casa na qual eu estava»; ou «A casa em que eu estava».
Crónica da autoria de Edno Pimentel e publicada na coluna "Professor Ferrão" do jornal luandense "Nova Gazeta", em 13/08/2015. Manteve-se a ortografia conforme a norma ainda aplicada em Angola, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.