Entre Portugal e o Brasil tudo nos liga nada nos separa. A não ser a língua (e já agora os dentes). É um fosso abissal, e para prová-lo Mauro Villar escreveu o "Dicionário Contrastivo Luso-Brasileiro" com mais de 12 mil verbetes. De posse destes dados, Millôr Fernandes construiu dois textos em "lusitol" e depois traduziu o mesmo para "brasilol". É o que se segue:
"Estava a conduzir meu automóvel numa azinhaga com um borracho muito giro ao lado, quando dei com uma bossa na estrada de circunvalação que um bera teve a lata de deixar. Escapei de me espalhar à justa. Em havendo um bufete à frente convidei a chavala a um copo. Botei o chiante na berma e ordenamos ao criado de mesa, uma sande de fiambre em carcaça eu, e ela um miau. O panasqueiro, com jeito de marialva paneleiro, um chalado da pinha, embora nos tratando nas palminhas, trouxe-nos a sande com a carcaça esturrada (e sem caganitas!), e, faltando-lhe o miau, deu-nos um prego duro." Agora em "brasilol": "Eu dirigia meu carro por um caminho de pedras tendo ao lado uma gata espetacular, quando vi um lombo na estrada de contorno que um escrote teve o descaramento de fazer. Por pouco não bati. Como havia em frente uma lanchonete, convidei a mina a tomar um drinque. Coloquei o carro ao acostamento e pedimos ao garçon sanduíche de presunto com pão de forma, eu, e ela sanduíche de lombinho. O gozador, com jeito de don Juan bicha, muito louco, embora nos tratando muito bem, trouxe o sanduíche com pão queimado (e sem azeitonas!) e não tendo sanduíche de lombinho, trouxe um churrasquinho duro."
Crónica publicada no jornal desportivo português "A Bola" de sábado, 22 de Agosto