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Livros de Roald Dahl terão duas versões
Livros de Roald Dahl terão duas versões
Uma original e uma alterada «para jovens leitores»: «serão livres de escolher qual preferem ler»

A editora Puffin anunciou esta sexta-feira que irá manter disponíveis as versões originais dos livros infantis de Roald Dahl, em simultâneo com as novas edições alteradas dos mesmos.

Assim, recuando na decisão de modificar a linguagem dos livros de Dahl considerada «menos educativa», a chancela pertencente ao grupo Penguin Random House admite que haverá duas coleções de histórias do autor a circular em simultâneo: por um lado, The Roald Dahl Classic Collection conterá os textos originais sob o logótipo da Penguin; pelo outro, uma nova coleção «para jovens leitores», sob a chancela da Puffin, apresentará as obras já corrigidas.

«Os leitores serão livres de escolher qual a versão das histórias de Dahl que preferem ler», afirmou num comunicado. O grupo editorial, que há 45 anos publica as obras do escritor britânico, assumiu que ter ouvido o debate da passada semana «reafirmou o poder extraordinário dos livros de Roald Dahl», assim como levantou a reflexão sobre «como histórias de outra era podem permanecer relevantes» para as novas gerações.

«Reconhecemos também a importância de manter os textos clássicos de Dahl impressos. Ao disponibilizar as versões Puffin e Penguin, estamos a oferecer aos leitores a possibilidade de decidir como experimentar as histórias mágicas e maravilhosas de Roald Dahl», lê-se no documento, que surge depois de a editora ter, no início da semana, acendido a discussão ao admitir estar a trabalhar na substituição de vários termos considerados “ofensivos”.

As alterações em causa prendem-se sobretudo com descrições físicas: em vez de "gordo", "enorme"; em vez de "feia e burra", apenas "burra". Ao todo, trata-se de centenas de palavras substituídas por outras alegadamente ofensivas. No caso de Charlie e a Fábrica de Chocolate, houve mesmo acrescentos ao texto original – o que, segundo um porta-voz da Puffin esclareceu na altura, não é algo “inusual”.

Várias personalidades do meio literário se manifestaram publicamente contra esta medida da Puffin, como o escritor Salman Rushdie, que a qualificou de «absurda». E a oposição chegou a estender-se ao primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak e à rainha consorte, Camilla, quem apelou publicamente aos escritores: «Por favor, mantenham-se fiéis à vossa vocação, desimpedidos por aqueles que desejem restringir a vossa liberdade de vossa ou impor limites à vossa imaginação.»

 

Cf. Agatha Christie é a mais recente vítima de censura

Fonte

Notícia do jornal Expresso publicada em 24 de fevereiro de 2023.

Sobre a autora

Jornalista do semanário português Expresso.