Como digo na minha réplica, nas obras de estudiosos portugueses e brasileiros que consultei - de Epifânio da Silva Dias a Aurélio Buarque de Holanda -, nada vi que exigisse a frase em causa sempre na ordem inversa e a considerasse inglesa na ordem directa. Porque de problema enfático (ênfase, estilo), acima de tudo, se trata.
Citei, então, Celso Cunha e Lindley Cintra.
Vejamos agora Epifânio da Silva Dias. Na “Sintaxe Histórica Portuguesa” (Clássica, Lisboa, 5.ª ed., 1970, pg. 310, §438), enuncia aseguinte regra: «Quando o sujeito é um nome não precedido de artigo definido, pospõe-se, não havendo ênfase: (...) aos verbos existir, aparecer, ocorrer, e aos de significação semelhante.»
Note-se: «não havendo ênfase» (isto é: se não houver ênfase)!
Portanto, deve pôr-se o sujeito depois de verbos como aparecer (ordem inversa) nos casos abrangidos em que o autor não quiser realçar o sujeito através da sua colocação antes do verbo (ordem directa).
Que fez o autor da frase criticada?
Para dar ênfase ao que era para ele mais importante (o aparecimento de uma revista), José Mário Costa iniciou a oração pelo elemento que queria salientar («uma nova revista»). Assim, interpretou fielmente a doutrina de quem, até hoje, a meu ver, melhor estudou a sintaxe histórica portuguesa: Epifânio da Silva Dias.
A Língua, na fala e na escrita, não é um fim em si mesma. É o instrumento privilegiado de transmissão do pensamento.
Devemos saber moldá-la ao que pretendemos dizer. Quando a empregamos mal, a «culpa» nunca é dela. Porque ela, na complexidade das suas regras, deixa fazer praticamente tudo.
P.S.
Lamento que Frederico Leal não partilhe do meu enlevo por Camões. Pode preferir o grande Camilo, o enorme Vieira ou o «puro» Bernardes.Mas não minimize o português do épico e do lírico só por causa dealegado cacófato: o célebre /Al maminha/ - que, segundo estudiosos como o prof. José Neves Henriques, atendendo à pronúncia do século XVI,talvez não fosse vício de linguagem.